Em
artigo publicado pelo Instituto Catarinense de Pós-Graduação,
Margrit Froehlich Krueger nos apresenta a discussão de que a
afetividade exerce um papel de extrema relevância para a
Educação Infantil. Sua importância estaria na
proximidade que o educador teria com o educando e de que forma isso
se torna um incentivo para uma aprendizagem mais efetiva.
Sua
discussão gira em torno de quatro bases conceituais e
teóricas: Piaget, Freud, Wallon e Vygotsky, embora dê
muito mais importância à Piaget, visto que o mesmo tem,
conforme a autora, a seguinte a crença (referência maior
para a conceitualização de seus parâmetros): “Na
teoria de Jean Piaget, o desenvolvimento intelectual é
considerado como tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo.
Paralelo ao desenvolvimento cognitivo está o desenvolvimento
afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências,
valores e emoções em geral.”
(KRUEGER, 2002: p. 4)
Dessa
forma, quando não há um acompanhamento entre afeto e
cognição, não há um desenvolvimento tão
a contento, aliás, tão global como realmente deveria
ser. E diria ainda mais: a
afetividade (seja ela apresentada em casa, com os familiares, seja
também entre este bebê e seus educadores) tem papel
importante, inclusive, em relações interpessoais e,
principalmente, na composição dos futuros julgamentos
morais desta criança; o quê significa que o afeto, mais
que um elemento aproximativo do bebê com seus parentes e o
mundo, é também um elemento conformador da cognição
e do desenvolvimento educacional deste ser em formação,
bem como seu passaporte para o mundo dos adultos e sua criação
identitária.
Pelo
fato de a infância ser uma etapa de adaptação
progressiva, no que tange à formação biológica
da criança ao meio físico e social, há que
existir um equilíbrio entre este parâmetro amoroso por
um lado e o intelectual por outro, além das possíveis
consequências na definição e estruturação
de uma conformação existencial plena e saudável
deste ser em constructo.
Ainda
pensando nos outros bastiões da formação
psicológica do indivíduo; Freud afirmará que há
uma relação muito íntima entre o mundo
individual do homem, suas relações inter-humanas, a
construção de um mundo habitável e a função
de nossa história e de nossos processos afetivos na coabitação
humano-existencial. A harmonia de nosso espírito depende
destas relações de uma forma muito visceral.
Já
em Wallon não há separação entre o
aspecto cognitivo e o afetivo e, como tal, há que se confirmar
o seguinte: deve-se valorizar a plena efetivação dos
aspectos socioafetivos para o desenvolvimento e o processo
ensino-aprendizagem, com foco na importância da afetividade
como recurso intelectivo e motivacional e para a relação
professor-aluno na construção destes saberes.
Apontar
o valor da qualidade das primeiras relações afetivas da
criança, com seus primeiros educadores, implica em focar numa
boa teoria do desenvolvimento e como isso, diretamente, afeta no
exercício da aprendizagem e na construção das
relações interpessoais desta criança pelo resto
de sua vida escolar.
Ainda
em Wallon, as emoções têm um grande papel na
formação intermediária entre o corpo, sua
fisiologia, seus reflexos e as condutas psíquicas de adaptação
(KRUEGER, 2002: p. 3)
do ser humano ao meio hostil em que vive, confirmando a tese de
Krueger (p. 4), que nos diz o seguinte: “Portanto,
a afetividade exerce um papel fundamental nas correlações
psicossomáticas básicas, além de influenciar
decisivamente a percepção, a memória, o
pensamento, a vontade e as ações, e ser, assim, um
componente essencial da harmonia e do equilíbrio da
personalidade humana.”
Ademais,
afirma-se, entrementes, que a organização dinâmica
da consciência, segundo Piaget, aplica-se ao afeto e ao
intelecto, ocasionando uma plena formação crítica,
intelectual, psicológica e cidadã do indivíduo.
Situação
que não é muito diferente do que pensa Vygotsky, já
que o mesmo explica o pensamento a partir da esfera da motivação
e das relações que o ser humano estabelece com o meio
social em que vive, evidenciando a importância das conexões
entre dimensão cognitiva e afetiva do pensamento psicológico
humano e sua pretensa unificação dos quehaceres
dos indivíduos.
Um
elemento a mais para se justificar aquilo que chamamos de proximidade
afetiva das relações humanas, ambiente em que se dá
a interação do indivíduo com os objetos a ele
apresentados e a construção de um conhecimento
altamente envolvente (KRUEGER, p.
5), em que o ser conhecedor sente-se motivado fisiologicamente para
compreender seu mundo circundante e todas as consequências que
o mesmo lhe ocasionar; e, por isso mesmo, a escola deve oferecer tal
referência para as crianças diretamente a ela ligadas e
com elas envolvidas. Visto que, em tal ambiente hostil, fora do leito
familiar e de uma proteção que lhe é peculiar,
tal aprendente deve se sentir seguro, protegido e amado.
Como
a criança na idade pré-escolar ainda não sabe
lidar com suas paixões, dominando-as e as transformando em
situações de aprendizagem, este ambiente escolar deve
ser o mais seguro possível, até para permitir uma
exteriorização de seus sentimentos. Sabendo, todavia,
que também há limites para a forma como se dá
esta exteriorização. Assim, e pensando em referidos
limites, a frustração deve fazer parte deste
aprendizado tal como o afeto. E nada melhor que a separação
e a regra para que se entenda o fundamento do viver em sociedade.
É
inegável que a criança precisa aprender que não
pode tudo, e que no universo social e escolar ela não está
mais sozinha, apesar de estar fora do ambiente familiar. É
ali, pois, que aprende a interagir com outras crianças, e com
outros adultos que não sejam aqueles de seu convívio
quotidiano e de seu seio familiar.
Neste
processo de separação a criança desenvolve a
tolerância à frustração e, desta
capacidade de espera, resulta o ecoar interno de uma representação
da mãe; uma representação que vem simbolicamente
focada no carinho que os educadores trazem para a criança, e
para seu universo pessoal. Carinho que traz até a criança
os símbolos do mundo, logo, confirma-se o processo de
ensino-aprendizagem que o mundo exige.
Mas,
esses momentos de crescimento só serão possíveis
se esta etapa for suficientemente preenchida de boas experiências
emocionais, que permitam ao pequeno um modelo de estabilidade e
segurança, previsível e contínuo. Um modelo que
lembre o universo familiar e, ao mesmo tempo, separa-se dele,
trazendo os símbolos do mundo. Mostrando que o mundo também
pode trazer elementos de aprendizagem e de construção
de saberes. Construção essa que necessita deste outro
afeto, que não o familiar, para que a criança se
constitua como um ser em formação, e com uma identidade
própria, apesar de vinculado aos primeiros símbolos
advindos de sua família.
Enfim,
para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e
adequado aos ambientes escolar, social e familiar, há que
existir um estabelecimento de relações interpessoais
muito forte e positivo, em que haja aceitação e apoio.
Apenas isso pode lhe garantir sucesso no universo extremamente
competitivo do ambiente, então inserido, e os objetivos
educativos do mesmo – nem sempre tão direcionados à
afetividade, como deveria ser –, pois, tão-somente
trabalhando com a construção do real.
Juntamente
com a constituição do sujeito em sua plenitude
psicológica, afetiva e intelectual é que teremos
condições de implementarmos o desenvolvimento integral
dessa criança; e o afeto deve ser um destes elementos
constituidores.
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