É estranho como o mecenato, uma instituição inaugurada ainda nos tempos do Renascimento, e que fora responsável por grandes obras da humanidade como o teto da Capela Sistina, além de 90% das obras de arte do mesmo período, ainda hoje tenta "auxiliar" grandes forças em longíquas - e até próximas - regiões do Brasil. São os rincões que só ouvimos falar quando de uma situação um tanto quanto interessante - e pouco interessante para alguns que insistem em dizer que a massa se constrói como identidade apenas dentro de um estádio de futebol, não importando seu tamanho; exitando em reconhecer como tal obra do imaginário popular pode mudar a cara, inclusive, de uma comunidade inteira (ainda mais quando de anos eleitorais).
O futebol faz coisas que somente no meio da mata fechada (Arena da Floresta, sede do modesto Rio Branco, uma das sensações da Série C do Brasileirão, bancado fortemente pela prefeitura do PT, de nome Raimundo Angelim; Série C em uma de suas edições mais importantes da história, diga-se de passagem) podemos ver ressurgir um carrocel que durante os anos de 1970 e 1980 encantaram o mundo, ainda que não tenha o mesmo brilho, apesar da bela-mesma cor, e com uma bandeirinha do Acre em seu centro, outro diferencial. O famoso carrocel holandês, nome do modesto time amazonense eliminado na fase anterior, de nome Holanda e com as mesmas cores e beleza do famoso Carrocel de outrora.
"Bancos" oficiais, estatais e municipais: é o que temos visto na Série C, uma boa Série C, diga-se de passagem - ou não, talvez o rádio engane a gente com sua vibração interessante e irradiante, mas que os gols têm saído aos montes, aí sim, posso constatar. Ano eleitoral, momento definitivo para o mecenato moderno agir. Ano que vem, Série C na TV, em nível nacional e com apenas 20 times (mesmo modelo adotado pelas Séries A e B, diferente da futura Série D, com inchados 64 times; aí sim uma festa de Babette, com um banquete de cores, locais e sabores, embora com a mesma emoção e beleza), eleições dia 5 de outubro, e dinheiro oficial numa das campanhas mais interessantes de referida divisão nacional de futebol.
Como sempre, temos a política mexendo até naquilo que, em teoria, seria o mais puro do brasileiro: sua identidade futebolística com uma massa apaixonada, mesmo quando o que está em jogo, nem sempre é o próprio jogo, como podemos ver em times como Rio Branco AC, Águia de Marabá PA, Salgueiro PE, Duque de Caxias RJ, Ituiutaba MG e Marcílio Dias SC.
Diferente deste mecenato moderno-politiqueiro, times de tradição como Remo PA e Santa Cruz PE, maiores rendas da Série C de 2008 e constantes representantes do norte-nordeste brasileiro na Série A, amargam campanhas e crises intermináveis, com falta de verba até para pagar energia elétrica.
O futebol é sempre muito desprezado por aqueles que aqui em Pindorama pensam na política e identidade de seu povo, contudo, é este mesmo futebol que consegue colocar nomes e cores em locais onde nem mesmo estes parrudos seres de óculos aro grosso e lente fundo de garrafa possam pensar que existem. Só que aí surge um outro problema: até quando o Brasil vai largar de mão seus olhos entrelinhados e, com inocência e sinceridade, investir em algo que dá alegria à sua gente? Embelezando nossos olhos com cores leves, pesadas e fora do lugar-comum, como o é na Série A.
Uma pena saber que há a necessidade de surgir ano eleitoral para haver investimento na arte e alegria deste esporte bretão tão tupiniquim quanto... apesar dos males da turma lá de cima. Aliás, justamente devido estes males que a coisa desanda, naufragando uma enxurrada de interesses e intenções lá no final da fila. Será que ano que vem poderemos nos divertir com uma Série C "rica" e mais bem-vista? Ou a onda de mecenato moderno se encerra dia 6 de outubro de 2008?
Que esta não seja a data de sua lápide...
Um comentário:
Mano blogueiro,
os futebois... riqueza e miseria de clubes e de atletas.
Miserias melhor distribuidas.
Paz e bom humor, sempre
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