Conforme Rudá Ricci no artigo O perfil do educador para o século XXI: de boi de coice a boi de cambão, publicado na revista Educação & Sociedade (artigo apresentado quase que como um libelo de afirmação de um modelo educacional muito caro para o autor), a noção de que educadores, ao introduzirem conteúdos contestadores e críticos, formam cidadãos por via escolar/formal não passa de mais um mito da educação, em seu breve histórico de vida no século XX. Mais que introdução de conteúdos contestadores, é numa íntima experiência perante a vida e com cada experiência conceitual e existencial que cada possível cidadão se faz completamente, como se apresenta Ricci – e seu texto.
A idéia central do artigo é
justamente polemizar com este pretenso papel que imaginara, décadas
atrás, se incumbir a escola na formação de
cidadãos, e como a partir dos anos 80, do século
passado, a educação ganhou a faceta que hoje se nos
apresenta. Ademais, o artigo também traça um esboço
do que foi a educação no século XX – no
Brasil, e em algumas partes do mundo –, e como hoje, baseada em
modelos alemão e espanhol (o modelo paulista de educação
profissional e educação para a vida traz isso bastante
evidenciado, nas diferenciações entre escolas estaduais
de ensino básico e escolas técnicas de ensino
profissional, inclusive esta última desvinculada da Secretaria
da Educação), foi a adequação social e
produtiva da mesma na Era da Globalização.
Ao se referir à Era da
Globalização uma grande discussão se descortina,
e é quando Ricci instaura a ditadura do mercado (como máxima
culpa das constantes transformações da educação
ocorridas no século passado) e sua influência constante
sobre os sistemas educacionais, donde cada passo dado pela tecnologia
acaba por emparelhar-se com a educação, colocando-a num
turbilhão de novos métodos, e todos eles vinculados à
dinâmica do capital.
Quando
adentra este universo, tanto ao educador (fordista no século
XX e pós-fordista no desafiante século XXI) quanto à
escola, é-lhes dado o status
de educação diretiva, ou seja, o entorno em que se
localiza a escola define suas funções – plano que na
atual gestão de Geraldo Alckmin diante do Estado tende a
voltar com grande veemência –, principalmente em instituições
formadoras de profissionais “diferenciados” para o mercado de
trabalho, como exige o capital; diferente das escolas de educação
básica; estas tidas como formadoras de cidadãos (ao
menos em projeto, apesar de notar que o autor não compartilha
desta crença).
Dos
programas apresentados por Ricci, ao destacar as escolas alemã
e espanhola tem-se, respectivamente, uma escola dual,
tentando unir empresa e escola; e uma escola aberta,
fortemente vinculada à comunidade ao seu redor – modelo que
lembra muito a Escola da Família
do governo PSDB –, privilegiando a formação moral, em
detrimento da formação direcionada ao mercado de
trabalho.
Tendo em vista as informações
apresentadas por Ricci, e usando como referência minha
situação, estando em sala de aula como me encontro,
pude notar que, no Brasil (e não posso excluir São
Paulo desta explanação), a adoção destes
dois tipos de escola virou lugar comum, gerando com isso uma certa
crise de identidade na escola atual, não conseguindo, ainda,
determinar qual modelo melhor se adequaria à Rede.
Resta agora, como bem retrata o
autor (que faz uma defesa apaixonada do modelo que imagina ser o
melhor para o Brasil, por isso a denominação de libelo,
ao início destas explanações; que seria o modelo
espanhol acrescentado ao resgate do papel de professor como
intelectual que era, antes da reforma fordista da educação,
segundo seu ponto de vista), uma mudança mais efetiva nos
cursos de formação docente, visto que o professor se
encontra enovelado num sistema mutante, inacabado e, acima de tudo –
por sua implantação tardia –, muito recente para os
padrões da educação básica brasileira,
sempre tão propensa à descontinuidade.