Dizem por aí (Wilson Martins), que foi a partir do momento em que o homem começou a abstrair-se de seu pensamento, e de sua mente, que a linguagem passou a ser criada e, principalmente, que demos um salto na evolução.
Mas, parece que não fora a vida do espírito que originara a abstração, ao contrário, nossa abstração que originou a vida do espírito. E esta vida do espiríto se fez concreta na linguagem... desde então nos desvinculamos dos outros animais.
Parece uma teoria bem interessante, ainda mais quando o que temos diante de nossa mente, e de nossa visão, uma quantidade de linguagem incompreensível para a espécie humana e, de maneira individual, impossível para o homem. Se formos buscar toda a linguagem que temos no mundo, e me refiro a uma pessoa apenas, passaremos toda nossa medíocre e mínima vida, e não conseguiríamos açambarcar um por certo deste saber. Fora a quantidade de línguas que tem o mundo, e que jamais, saberemos zero vírgula um por certo desta compreensão.
Aquilo que, num primeiro momento, foi-nos libertador, hoje, até para as pessoas mais insistentes e inquietas, tornou-se uma grande prisão. Uma redoma que apenas conforma nossa falta de liberdade.
E neste casulo que se mostrara a liberdade, não tem insônia nem incômodo que coloca o homem para fora de sua significação de mundo. Estamos, tão-somente, cada vez mais presos a esta redoma, e o que é pior... nas atuais circunstâncias é impossível nos desvincularmos deste casulo. Ou seja, a liberdade tornou-se um objeto de primeira necessidade, e de primeira linguagem e, todavia, não podemos nos utilizar dele. Quando encontramos por aí, algum bom orador, que insiste em colocar este liberdade como seu principal objeto significante, de mundo, nada mais temos senão um grande hipócrita, e também um grande bajulador de nosso ego - ele apenas diz o que todos nós gostaríamos de ouvir, em especial, quando colocamos o problema da liberdade em questão e, por conseguinte, o da linguagem como sendo problemas correlatos, na sociedade da informação infinita. Principalmente se o que está em jogo é essa nossa necessidade de primeira pessoa.
Poderíamos escrever um livro de quinhentas mil páginas que, jamais, conseguiríamos lê-lo e fazer dele um livro do mundo.
Então quando dizerem por aí que sua vida é um livro aberto, até pode ser, mas a leitura deste livro será sempre absurda (para não dizer impossível). O fato de buscarmos constantemente a primeira pessoa no outro, coloca ainda mais códigos para que nossa insígne linguagem consiga compreender - e cada vez mais se perder -, e fazer-nos significado. Pois, seria este seu papel, fazer-nos o mundo como a algo significante.
Mas, pelo visto, é um papel que, de tantas letras, não poder ser lido... está muito confuso e completo. Aquilo que é completo demais não faz parte de nossa realidade, aliás, da realidade da linguagem.