sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

100 Balas: Revivendo Hammett e Chandler

Há muito tempo não lia um romance policial que me despertasse tantos sentimentos como a história em quadrinhos de 100 Balas, escrita e desenhada por Brian Azzarello e Eduardo Risso respectivamente. Trata-se de uma construção narrativa espetacular, com refinados toques de dramaticidade. Nada, absolutamente nada que acontece na seqüência das histórias em quadrinhos de 100 balas é por acaso, tudo se encaixa perfeitamente e tem sua razão de ser na trama.

A trama principal gira em torno de uma mala com 1 arma e 100 balas não rastreáveis sempre entregue por um tal agente Graves a uma pessoa que sofreu algum tipo de injustiça, o tal agente oferece a oportunidade de as pessoas se vingarem sem que corram o risco de serem presas ou perseguidas pela polícia. Só no decorrer das histórias é que os autores passam a revelar gradativamente os mistérios que envolvem homens com Graves, Sr Shepherd, Lono e Cole Burns, como, para quem trabalham?, quem são?, quais são seus objetivos?, se formam um grupo ou não?, etc.


100 balas remonta a tradição de autores como Dashiell Hammett e Raymond Chandler, ao mesmo tempo em que, atualiza os ambientes e as atmosferas do mundo do crime. Contra todos os preconceitos, tanto por ser um romance policial considerado pelos néscios de plantão como uma subliteratura, quanto pelos intelectuais adornianos que vêem, ainda hoje, os quadrinhos como um mero produto básico da indústria cultural, fútil, palatável e descartável, 100 balas consegue ser, concomitantemente, um grande romance e uma fantástica narração gráfica, sem nenhuma perda da qualidade dramática. Boa Leitura!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Tarso


Viagem ao Fundo da Alma (Parte II)



Sentada em um sofá gasto pelo tempo, Mátria observa o barulho das crianças no lado de fora. Nestes momentos ela sente uma certa nostalgia, não se sabe de que... É uma saudade constante, como um memorialista ao final de sua obra. Tempos idos..., forte espírito do passado em sua alma.

As sensações se debatiam, mas logo voltavam à mente, perscrutando no fundo da alma uma leve picada de dor e solidão. É o tempo apresentando sua história e a transformando em pêndulo passado... como se a ampulheta invertesse seu ciclo e as pessoas começassem a olhar atrás, andando de costas, sempre com as mãos no bolso... É o tempo que tudo consome, sendo consumido pelas lembranças de uma matriarca anciã.

Ao rememorar o passado. Muitas sensações acometem Mátria... as vezes boas, outras ruins. O maniqueísmo da vida tem em mãos gastas, a grave significação de felicidade desgostosa, ociosa e nostálgica. Assim, sua cabeça apresenta a trilha sonora de uma película de 16 mm., do tempo de Chaplin... o silêncio do preto e branco é a personagem central da tela de lona branca, no meio da praça mal iluminada.

A vida parece se repetir, contudo, para Mátria cada repetição tem a ilustração de um passado novo, revisto, porém mal visto. As córneas parecem turvas, no entanto apresentam sombras de um passado imberbe como a bunda de um recém-nascido. É assim, apenas sombras povoam a vida de Mátria a muito tempo, por isso que, as vezes, o passado assume a limpidez de uma nascente bem cuidada. As imagens aparecem, todavia, como reflexo de um inconsciente experiente e vivido. Apesar de ter as vistas turvas, sua consciência assume a limpidez de anos que não se passaram, apenas foram arquivados em gavetas bem cuidadas.

A superioridade e altivez que emana dessa senhora, consegue encorajar o mais biltre dos homens. Uma sensação de indiferença atravessa os sensores humanos, exercendo sobre tais homens a impressão desagradável de um instante de solidão. Eis como se sente o homem que é alcançado pelo espírito altivo de Mátria.

O amor parece exigir muito mais quando se está ao lado dessa mulher. Talvez essa faculdade de limpar as sombras, até tornar sereno seu olhar, amedronte as pessoas. Fazendo com que as mesmas busquem em algo maior, a segurança de porto onde atracar. O que seria este porto seguro? A busca de um amor maior, superior a toda e qualquer vontade individual... dessa forma é Mátria, a personificação de um amor maior.

Começa a chover, Mátria escuta o alvoroço da criançada em festa... Uma correria desenfreada toma conta de toda a rua. Mas o incrível disso tudo é a sóbria posição de nossa personagem, mesmo perante tanto alvoroço, sua mente vaga nas areias da ampulheta invertida. O silêncio desta alma é maior que a tempestade.

Seria a nostalgia, o motor de tão serenos arquivos? Sim, ao olhar Mátria, imóvel em seu sofá, resta-nos apenas a limpidez desta afirmação. Um sentimento maior que as eras do tempo... contudo, são arquivos muito bem organizados e sóbrios. A ordeira posição dos fatos, cronologicamente delimitados em linha reta, mostra-nos o caráter incorruptível de nossa heroína. Uma vida sem excessos, amparada na, sempre presente, preocupação de resolver os problemas, sob a tutela de sua proteção. Sua família sempre foi exemplo de vida digna e ordenada.

A busca pacífica dos conflitos internos fez dessa anciã a matriarca de uma família unida. Os interesses da família sempre foram os seus interesses, a vontade individual é iníqua perante seu pensar, sua pessoa é superior, dessa forma, os interesses individuais assumem o caráter de um interesse maior... a vontade de Mátria. O fato de nossa heroína existir já é suficiente para instaurar a identidade de uma família, e posso afirmar com veemente certeza que, Mátria é a identidade de sua família, aliás, ela é a própria família.

Nem mesmo a nostalgia de um tempo que ficou é capaz de macular a certeza de um corpo unido e pacífico. Não nos esqueçamos, porém, que este corpo é a ampulheta invertida, a sombra límpida e a água cristalina de uma nascente familiar.

O sofá gasto é o sinal de um tempo cronológico, ordeiro e possessivo...


2002


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Viagem ao Fundo da Alma...



Eddie

Parte II




Na parte interna do vilarejo um verde-ouro toma conta de toda a paisagem. É a plantação de trigo que a estas horas está abandonada, mas espere... a poeira começa a se levantar, para logo em seguida descerrar seu pó mesquinho.



Aqueles que outrora seguiam nosso andarilho, voltaram para sua jaula. Suas vidas voltaram à normalidade.



No entanto Eddie prossegue adiante, sempre em divagações desvairadas... Mal percebe que a penumbra tomou o vale e a serração escureceu as árvores. Um respingo gelado cai sobre as costas de nosso andarilho, a névoa está fria... no entanto o coração é quente e infantil!



"O corpo nu sobre a cama fria..."

2002

Carta ao Mino Carta – Um Singelo Agradecimento

Acerca de "O Silêncio é de ouro" Despedida de Mino Carta

Olá Mino, é com emoção que leio sua última postagem, mas não o reprimo, tão claras e contundentes foram suas justificativas. Cabe-me apenas agradecê-lo por estes anos de ensino clarividente e torcer para que um dia, você, não só escreva um livro sobre o Brasil e consiga publicá-lo, mas também que a esperança volte a bater em seu peito e que sua "fiel Olivetti" volte a sentir as carícias perspicazes de seus dedos.
Sei que o Brasil que sonhamos ainda está muito distante, mas tento seguir em frente, pois não fiz nem 0,5 % do que fizeste. Por isso, compreendo sua decisão.

Um Abraço afetuoso para aquele que sem dúvida tem um lugar reservado no mais alto posto do jornalismo brasileiro.

Emocionadamente,
Adonile A. Guimarães
http://adonile.blogspot.com/

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Viagem ao Fundo da Alma...




Eddie

Parte I




A estrutura orgânica do globo terrestre, além de suas fronteiras geográficas, aparece aos olhos adormecidos de um andarilho melancólico como uma saraivada de obstáculos.


O desprazer de encarar os limites de um espaço distante e limitado aflige a orientação cognoscente (aquela que vem do fundo da alma) deste andarilho. Suas pupilas gastas, estilhaçadas pela poeira do caminho e pela luz dos homens fracos, a muito turvaram a salobre existência de sua pueril criatividade. Seu mundo se fecha em um sensabor de limitações. Sua estrutura crível (primeiro lapso de sua alma criativa) se desorienta e sua cabeça sente o peso aterrador de um corpo limitado, mas, acima de tudo, pretensioso. Para tais olhos o mundo é uma caixa de palhaço, cheia de surpresas fortes, mas extremamente agradáveis.


Neste instante, o que se nota é um olhar distante, divagando além da compreensão objetiva de olhos externos e mentes desavisadas. Para surpresa do passante distraído, com seus enormes olhos externos, o andarilho senta-se sobre a raiz de uma grande árvore, debruça, melancolicamente, sua pequena trouxa desarrumada na terra batida das proximidades. Coloca a mão sob o queixo, estende suas costas no tronco espesso, mira o monte do outro lado da estrada e começa:


Peço permissão ao leitor para quebrar esta narrativa e apresentar-lhe o que vem de assalto à mente, as vezes desvairada, de nosso andarilho solitário. Por mais que sua compreensão seja truncada, tenha um pouco de paciência e acompanhe este pensamento...


"É tarde, o corpo nu sobre a cama fria contorce-se afoito por se condoer com os astros, ora de um amarelo prateado, circundado por reluzentes raios e sedimentados pela insone noite, que outrora, acalentava o próprio reluzir, ora de um azul sem estrelas, circunscrito na cama branca e decadente de uma vida em miséria. Deixando o insistente tiquetaquear de horas passadas, no limbo da existência, tornar-se aprazível em àquilo que o tempo consome... nossa vida!


"Vitorioso por viver, estes murmúrios podem ocultar algo estranho, olvidando os sentimentos com a intenção de compreender um todo deformado, um mundo em destroços, direcionando-se à barbárie primeva dos tempos..., o tempo do infinito e sua sede de auto-confirmação. Tempos outros, tempos idos... recorrentes e circulares.


“Mas, ainda assim, se delimita o instante que amassou o lençol branco da cama fria, onde este corpo nu insiste por se contorcer; ainda tenta um retorno a Aristóteles e seu universo metafísico, onde a alma impulsiona a razão e confirma o mundo verdadeiro. E quando este universo se mostra, recorro-me à Kant, gênio puro da liberdade humana, instância mais imprecisa e, talvez, única capaz de tentar explicar o quão difícil se tornou tal vida após uma partida, em direção à descoberta do mundo, meu mundo, único que se mostrou após o desligamento de todos aqueles que outrora povoaram o casulo primeiro.


"Várias noites insones ainda povoam este mundo, que, negligenciado pela própria sorte, consegue satisfazer-se no eterno afã de conquista... maquiavélicas faces da Fortuna. Sentimentos nobres que respiram o hálito perfumado da noite em silêncio, sentimentos que nem mesmo foram capazes de se integrarem ao núcleo deste mundo; somente lá a origem de tudo, uma origem indivisível e intransferível, uma origem desoladora, impositiva. Um documento impresso em brasas vermelhas que conseguem marcar a alma como a um instrumento eterno. Cunhado para delimitar a eternidade, embebida em vida própria, infindável por teimosia... Uma vida própria que só se tornou capaz após aquele instante que, como mencionado, insistente pôde se mostrar nessa vida própria, sempre buscando um mundo também próprio (será que o encontrarei no imperativo categórico da existência?).


"Mas o frio da cama cada vez mais se recrudesce, uma vez que a pena de uma história ainda povoa a silenciosa noite que, rodeada por amarelos-prata, conseguiu se distanciar do mundo. O mesmo que estás a buscar sem nunca se predispor ao fracasso, talvez isso seja uma conseqüência que poderá se concretizar com o arrolar do tempo, ao passo que ainda o é mestre e senhor, pai da escravidão dos povos e nações. Tendo em vista que mesmo Alexandria com sua imortal essência, foi cruelmente delimitada pelo fogo desse mesmo tempo, que até então era guardado por prateleiras centenárias, onde apenas as mãos do douto ser podiam ser instrumentos de manuseio, concretizado em clássicos que a remota Grécia pré-cristã podia oferecer.


“Porém, a natureza humana sempre é vitoriosa por devir, nada consegue barrar a máquina humana das idéias, até mesmo o imortal pêndulo se submete ao desbravar do universo humano.


"O tempo, mestre e senhor, é sempre dúbio. A todo instante assume posições contrárias, tanto cogita-se sua senhoria como também sua submissão, posições de eterno conflito; como o corpo nu que não se deixa absorver pela noite e que é capaz, em momentos outros, de abraçá-la em seu estado de profunda letargia.


"Os sons, que esse mundo nos faz homens insones, chegam a todo instante, é quando se percebe que o onanismo do tempo também é povoado por sons que nos incitam ao silêncio, uma vez que, quando advindo da penumbra noturna, este som pode ser o pretexto final de nosso silenciar, que clama por ouvir murmúrios tão belos.


“Essa beleza que pode surgir no escuro da noite, as vezes nos assusta, pois ainda não nos habituamos a colher coisas belas... Por que nos importar com isso se o sono tarda a chegar?, necessita-se dele, o persegue com olhos vermelhos de doente, sabe que, se não o encontrar em breve, o sol se despontará novamente e chegará o momento do acerto de contas.


"E assim, o temor do lençol branco, ainda navega no árido pueril da mente humana, busca-se domá-lo com o intuito de aspirar ao mérito do descanso de vidas em jogo, num mundo que, passível de compreensão, se buscou viver. Essa busca vai se mostrar eterna em formato de posições tomadas, que ainda afligem as idéias humanas e, nesse sentido, o aflito corpo nu está inquieto, rodeado pelas trevas da noite, tentando nas sombras uma proteção para tão frágil corpo, tentativa que constantemente é posta em prova. O frio do tempo agasalha, ele treme e se põe a gritar..., em vão, os gritos se confundem com o silêncio da noite, e dessa forma são abafados, fazendo com que não ressoem.


"O convite ao sono se torna cada vez mais longínquo, tudo aquilo que o ser procura em vida pode se findar na distância de dois pontos, dois estágios; o entremear do sono com o do estar acordado. Talvez o momento propício de estar acordado tenha tornado o mundo diferente para poder se viver, ou vice-versa; considero assim algo até um pouquinho mais distante, nossa vida pode estar entremeada por dois pontos também, e nesse registro, a locomoção do mundo faz parte do viver em mundo. É de acordo com esse feitio que sua insigne existência se transforma; o grande percorrer do circuito existente entre estes dois pontos.


"Silencioso, meu corpo tenta recomeçar o ciclo, mesmo porque, não obtendo respostas em seu ressoar, tudo se transforma muito mais fácil. Assim, o corpo nu tenta voltar ao seu habitat natural, onde possa usufruir das benesses de um deixar-se envolver por momentos, que em sua eternidade, não durará mais que algumas batidas do pêndulo.


"Altaneira, a noite já se esvai em seu frescor peculiar, trevas que nos incitam à luz das idéias (despontando em sonhos que, somente estas poucas batidas poderão proporcionar), apresentam a infinitude do universo e nossa arma de conquistá-lo. Suas trevas... sua debiedade! A busca dessas idéias faz com que o homem (agora não totalmente nu, pois seu corpo, onde se encontra os membros superiores, recebeu uma leve película de tecido, tão desnecessário que se torna único), descerre a cortina do universo... descortinando suas trevas. Porém, o frio não é mais tão agressivo, vestimentas que o tempo hábil das horas podem fazer história, interrompendo o ciclo das estações, reinterpretando a significação necessária para uma compreensão do que se tornou desnecessário ao homem, não mais tão nu.


“Querendo começar de novo um outro ciclo que possa servir como marco de tempos constantes e práticos, se encandece de estupor e brilho. Toda uma dinâmica envolve-o, assim poder-se-á metamorfosear a vida indigesta dos seres em silêncio, a vida indisposta dos seres em agonia..., tudo irá se enquadrar conforme o processo de necessidade, que terá início no escurecer de luzes em aflição. Nesse contexto, as idéias poderão ser fator primordial para o desbravar do metafísico mundo aristotélico, mundo este falsário e filisteu.


"O instante que outrora se fez, mostra-nos alguma coisa: quando predisposto à obsessão das luzes, pode nos oferecer êxtases que em tempos tais como o nosso, faz do corpo nu um ser que corre por ruas esburacadas, em busca de concreto e iodo. São complementos para uma nova formação metafórica, empregada pelo ensejo de, percorrendo tais instâncias, poder preencher estes buracos. Fazendo de sua corrida menos dolorida Ainda assim se torna difícil sua caminhada, pois o mundo que então povoa não passa, somente, de sonhos distorcidos, típicos dos quadros surrealistas de grande Dalí, nosso Salvador de dores, outrora distantes.


“Nesse intuito, o modo sartreano de se viver confunde-se com a realidade temporal dos momentos, e assim, com essa busca final nosso homem nu, não tão mais nu assim, ainda busca essa vida posta como opção própria de alguns caminhos; caminho escolhido por ele para poder trilhar. Essa viagem, ora imaginada, não passa, porém, de distúrbios cognoscentes que podem se comparar ao mundo metafísico, tão mencionado anteriormente. Mas mesmo assim o homem, que não está mais totalmente nu, sonha por esse momento; talvez o único sonho de prazer que o afixe à vida.


"As peripécias que podem ser sentidas, após o instante sonhado pelo homem não tão nu, se incute em dores, sofreres e paixões que o irá perseguir por um bom tempo. As dores que sempre o persegue persuadem, com ligeira destreza, o seu âmbito quotidiano, a dissolução de seus atos é sinal legítimo de momentos doridos; dores que estão em constante evolução, mesmo porque suas formas concretas são mostradas àqueles que se enveredam pela estrada aristotélica, como o faz o homem, que totalmente nu não mais se encontra. Uma vida de dores que podem ser prenúncios de sofreres maiores ou de soluções mais plausíveis, assim, tais dores são legítimas, únicos meios possíveis de mostra verdadeira.


"A forma com que é posto o mundo em sua vida, influencia com grande constância seu modo de viver. As relações recorrentes entre os homens nesta vida diária, a forma com que esses homens se interrelacionam; tudo isso se evidencia no passar pela rua, envolto em sombras, onde o homem, agora vestido, nem ao menos cumprimenta seu semelhante que passa do lado, as vezes nem tão semelhante assim.


"Anunciando plenamente o que cada um tem na simbiose de seu sangue; uma total individualidade, que quando posta ao homem vestido, deixa-o nu. Isso também o amargura, tanto em noites de insônia como em dias de sol reluzente, como é o caso do semelhante que é encontrado na rua e nem ao menos o cumprimenta como a um semelhante, levando-o a buscar, cada vez mais, sua reclusão na metafísica noturna de noites de insônia, são dores que não acabam nem mesmo quando se busca um emplasto.


"Os sofreres disseminados no caminho de sua noite, enquanto esconderijo de acalantado gozo, podem repercutir no que sua pena virá à mostrar, e essa apresentação só o homem vestido é capaz de modificar, pois ao sofrer, se percebe em sua recôndita essência, o cantinho burlesco de uma boca, que em forma de sarcástica desenvoltura, denota o quão ímpio pode ser o gozo da dor. Não que sua vida seja movida pelo imortal Marquês de Sade (ou vocês acham que o termo sadismo foi cunhado do nada?), mas por ter uma vida que, ao revés de tantos abismos, conseguiu alcançar a plataforma do etéreo prazer de sofreres saudáveis. Assim, ele conduz o comboio de sua existência como quem assiste ao inóspito teor do enxofre, se deliciando com tão terríveis paragens, mas, acima de tudo... lhes devassando o caminho.


"O homem, que estava nu, fez a viagem dantesca da comédia, que se mostrou divina ao se inspirar no semelhante que encontrou na rua. Dessa forma sua vida se conduz, com o único afã de conseguir alcançar os méritos de um conflito, que se tornará concreto ao cair da noite insone. E essa viagem, que se mostrou dantesca, serviu como simples aparato passional para mostrar o quão sua vida se desfalecera no ingrato mundo, que sozinho estás a buscar. O mesmo mundo que lhe proporciona dores insones e prazeres mundanos, tão bem mostrados no momento em que seu corpo nu se contorcia sobre a cama fria, em noite de reluzente amarelo-prateado. Esta dor que se mostrou intransferível em sua origem teimosa... mas a dor que outrora povoa o sono de seu estado de rebeldia, em momento outro pode se mostrar bela e prazerosa, mesmo porque sua paixão, imbuída em si mesma, bela se codifica... porém, não impõe limites... eis seu segredo de sucesso.


“Que possamos encarar a dor como um mal passageiro, onde seu verdadeiro espírito se mostrará como etapa vivencial, senão radical, de uma etapa além-do-homem.


"O processo que ousou definhar, serviu como deslinde da luz, que na razão se mostrou tão clara que pôde reluzir em lugares, onde antes mesmo de serem pensados já haviam sido pisados, prova concreta de que a razão pode ser o intento primeiro de uma vida em farrapos, que se segue no escurecer das trevas humanas, onde nem mesmo a razão foi capaz de ocultar. Com isso, sua vida é somente a repetição de momentos que, dialeticamente, são mostrados como se jamais tivessem vindo à tona. Esse eterno transportar, de repetidos atos, se afirma cada vez mais na forma com que o homem, agora vestido, se relaciona com seu semelhante nu, momentos que poderão se mostrar cada vez mais sombrios.


"Tendo como ponto de partida o meio pelo qual os momentos partem do nada (pois sabe o homem vestido que, seu semelhante quando se comparado a ele mesmo, nu se configura como tal), os parâmetros usados para essa comparação servem como marca a se seguir. Com isso, o homem nu continua com sua afoita possessão a se contorcer pelos lençóis brancos da cama que, nem mesmo o tempo conseguiu tornar quente. Aquele estado de agonia, em absoluto, ainda se desdobrará por noites a fio que, insones, continuaram a afligir o homem nu, cercado pelas trevas... trevas de luz, repletas de uma áurea criativa e extraordinária.


"Na travessia do caminho, o papel de coadjuvante, referente ao seu estado de nu envolver, tem como ênfase, o percorrer necessário para que se possa atravessá-lo. Logo, tudo se torna um pouco mais árduo quando, optando por momentos que podem transparecer a tarefas suadas, algo não tão dorido assim (tendo em vista que toda dor tem a significação de lembranças que poderão se desdobrar em prazeres que só o sentido do palato poderá se expressar como em formato de visões controversas ao nosso conhecimento lógico), estabelecendo limites e regras, o que faz com que fujamos de nosso primevo existir.


"A ilusão da dor nos é imposta tal qual uma verdadeira significação, aquilo que nossos sentidos tentam absorver, para então compreender, são apenas reflexos que puderam ser, tais como são, devido ao instante que nosso cérebro compartimentou como sentimento dele próprio. Compartimentou como ilusão de um reflexo que exteriormente nos incidiu, e que em momento presente à sua mostra primeira nos inseriu no nonsense da razão, apresentada a nós como sensação única de verdade, reprojetada pelos milhões de neurônios que compõem a elite temporal do cérebro. A mesma elite que projeta sobre os sentidos o seu real instante de sentir, aquele mostrado ao contato do ser com o tempo e o espaço, seus choques diários, suas projeções corriqueiras, seu instante rotineiro, enfim, toda a gama de reflexos que o corrompe ao entrar em contato com o mundo tal como é.


"O corpo nu... aquele que se preza a sentir tais reflexos, ainda se contorce na cama, sua cama que pudera ser quente, portanto fria se encontra..., gelada se mostra. Sua cama que então fria se mostra por estar envolvida com os milhares de reflexos e sensações emitidos pelo cérebro, o mesmo que uma grande elite trabalha, proporcionando a esse corpo nu uma sensação de desnudamento, uma sensação de frio, uma sensação de vida, mesmo que sobrevivida... mesmo que subvivida... mesmo que vegetal!


"A vida se torna breve ao deparar com sofreres que amarguram o corpo, o mesmo que ora nu, ora vestido, se mostra. Estou vestido, mas sinto-me nu. Seria o absurdo... absurdo, ou talvez a criação de um disfarce..., tenho medo... preciso acordar..."


Ao acordar do transe, uma brisa suave faz o andarilho abrir os olhos... um ASSOMBRO... ASSOMBRO: ao seu redor um grupo de pessoas o circunda. Olhando para o céu, ainda atônito por seus desvarios, nota uma claridade forte nos olhos "O dia ainda está quente...", o calor incomoda, nem mesmo sombra tão robusta é capaz de amenizar temperatura tão escaldante..., mas a lembrança do frio da noite, de sua consciência, arrepia os pelos... seriam pelos de consciência, ou mesmo pelos de vida?... não sei, apenas pelos.


"E agora... um calor insuportável, pessoas desconhecidas..., um leve murmúrio vai dando lugar à cacofônica algazarra de uma babel fantasiosa!" Sem entender nada, nosso andarilho se levanta (nem sua sombra o abandona, uma sombra barulhenta e confusa, alimentada pela maquinal euforia dos pensamentos em crise) e começa a caminhar, afinal de contas, é este seu destino... desbravar a vida e descobrir a consciência. Ao verem isso as pessoas se juntam ao passo lento e à poeira do caminho, imitando a estrada de uma personagem.


Não se importando com as visitas inesperadas, mantêm seu ritmo. Novamente um assombro, a presença de casas o intercepta pela rua, outrora deserta, mas logo se lembra: antes do descanso havia entrado num vilarejo.


"Aquela sensação sempre presente, respirações desregradas... o quão difícil se mostra para mim certos desvarios.


"Pessoas me observando, casas modorrentas ao meu redor. Sinto falta de meus instantes solitários, sinto falta da noite escura sem estrelas. Não que encaro as estrelas como inimizades, não é isso... gostaria apenas de sorver o hálito puro da noite, como um corpo nu. São em instantes como esse que minha solidão faz falta... preciso reencontrá-la... preciso recontá-la. Necessito de minha liberdade novamente..."


A energia das pessoas, suas atitudes, precisam ser condicionadas àquilo que cada um sente mais prazer. Ao tentar fugir do ambiente primevo, a personalidade se perde, os seres se automatizam.


Percebe, leitor, a importância do silêncio e da solidão para este nosso personagem? Percebes que sua vida precisa de recarga?... assim somos nós. Jamais podemos negar nossa energia criadora, nossos instintos primevos (esta última expressão pode ser uma redundância, no entanto é uma redundância necessária, só assim poderei expressar, da melhor forma possível, esse ser íntimo e individual). Lutar contra tais instintos é o mesmo que entregar-se ao suicídio. Nossa vida só é nossa quando temos as estribeiras de sua direção, isso é ser livre. A partir do momento em que negamos nossas paixões, estamos negando a nós mesmos, uma vez que nossas paixões são apenas recorrente reflexo de nossa primeva essência.


Ao coexistir, nego aquilo que me fomentou, nego minha liberdade... Nossa vida deveria ser pautada por uma insurreição constante, até mesmo nosso ambiente familiar nos agrilhoa. Nossas amarras e nossos limites são flexíveis, pode-se dilatar espaços e intercambiar emoções. Cada referência pessoal ou cada vontade precisam de nossa consciência para existir. Ao permitirmos interferências nocivas à nossa consciência, estamos permitindo o auto-suicídio, ou melhor, o suicídio involuntário. Temos limite, no entanto, apenas cada um de nós pode visualizá-lo.


Assim é Eddie, nosso andarilho, ele não permite limites externos, ao contrário, faz seus limites, cria-os de acordo com sua conveniência. E a solidão é o momento crucial para a construção destes limites.


Alguns o chama de louco, outros de pedante, contudo, sua consciência sorve estas explanações e as digere, letra por letra. As vezes o produto final é a loucura de pensamentos soltos, outras vezes é a formulação de um silêncio infantil.


Eddie é uma criança que precisou ir no deserto da consciência... antes camelo, depois leão... Mas, só depois da solidão voraz e irrestrita do leão, que Eddie virou criança. O difícil não é carregar os sentimentos e as emoções nas costas, principalmente o mundo, muito menos ter coragem para enfrentar a solidão deste mundo. O difícil é saber dizer sim inocentemente... o difícil é ser semente nova, levando até o mais profundo da consciência uma planta pueril e fresca. Assim é Eddie, precisou ter força e coragem, no momento oportuno, para virar criança... para virar semente nova.


A sensação de estar só, no silêncio do mundo é, para Eddie, poder ser livre, aliás, ouso dizer, poder ser um espírito livre. E esta criança que todos os dias nos chama, é o caminho. Eddie ouviu ao seu chamado...


Ao calçar luvas diante dos ideais, nossa personagem não está refutando-os. Está apenas dando um passo adiante, está se lançando ao proibido, de tal forma que, este terreno 'intransponível' assumi o status de pântano intransigente e covarde. Assume também o caráter de 'lixão' da humanidade, todos os homens que até o momento passaram pela Terra estão apenas corroborando com a destruição de suas vidas, permitindo o depósito de restos doentios da mais imunda sandice. Todavia não os culpo... culpo sua consciência fraca e covarde. Uma vez que o proibido sempre se mostrou diante de ti (primeiros lapsos de sua vida essencial), mas sua moral e sua ética burguesa se impuseram, deixando-se subjugar o conhecimento primevo e a rebeldia primordial. Permitiu que forças externas o tomassem, dando-lhe o aspecto de uma ovelha feliz.


Até quando temeremos o proibido? Até quando temeremos a rebeldia e a insurreição? Não sei, só espero que Eddie o faça, pelo menos é este seu propósito. Tendo todas as características para desbravar o proibido, se lançando a ele como uma criança inocente... sim, é de homens e mulheres com estas características que precisamos.


Aquele que respira o ar das alturas jamais se esquece. E a solidão tem nas alturas seu melhor refúgio, como também o silêncio. Os que buscam as alturas encontram o silêncio e a solidão... se embriagam!


"Infelizmente o vilarejo prossegue, a única vontade, a mais forte aliás, é ultrapassar esse adobo ressequido pelo tempo, engolido pelo verde dos musgos e pelo cinza da fuligem. Um ambiente bucólico, cheio de características belas, mas ao mesmo tempo, débeis... FRACOS!


"São pequenas casas com chaminés compridas, uma porta frontal e duas janelas... mas, que me importa! Quero fugir, preciso do refúgio da floresta, necessito de sua solidão... e estas pessoas que me perseguem. O que fazer?"


Não se desespere meu caro andarilho, o tempo é curto e o trabalho é escravizante, em poucos instantes estará só, aliás, estaremos só.


2002

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Viagem ao Fundo da Alma...


Albertina
Parte II



Duas horas da manhã, Albertina ainda não foi dormir (nem irá...), deus Dioniso resolveu se encontrar com Orfeu. E do alto de seu apartamento, no centro da metrópole, as luzes da cidade a chama. As garrafas de vinho, vazias ao canto, foram o aperitivo... Ajeita seu cabelo, fecha a calça jeans e pula da cama. Foi buscar sua bolsa, companheira inseparável das noites em claro. Já a esperam na portaria, o tempo é curto, mas a vida é intensa.


"Essa lucidez me mata, há horas olhando as estrelas e a mesma coisa não me sai do pensamento, será que essa idéia absurda vai continuar martelando minha cabeça? Preciso beber, olhar as pessoas ao meu redor... fugir dessa tragédia grega... aliás, não é melhor me embrenhar nela e sorver até a última gota dessa loucura? É isso que farei... Apolo que me perdoe, mas hoje quero Dioniso. Não suporto mais esse marasmo.


"Se a ambigüidade faz parte do existir, também quero me esconder... não, não! Preciso dar as caras, gritar muito... a rotina me massacra.


"Sou dúbia, dissimulada... porém tenho convicção de meus anseios, prezo muito a liberdade e é nela que entrego todo meu segredo... diante do espelho não preciso me esconder, Tina me vigia.


"Sim, oscilo entre o natural e o extraordinário, o absurdo e o lógico, o trágico e o cotidiano... é isso! Quero a companhia de Édipo... onde está meu oráculo...?"


Repentinamente a porta se abre e Tina, fugindo de seus devaneios, se assusta... o extraordinário confirmou sua existência mais uma vez. Este ato repentino de abrir uma porta é o suficiente para trazê-la ao mundo novamente... essa inconstância a persegue.


"Vamos Tina, até quando vais conversar com Narciso?"


"Tá bom, vamos..."


O elevador está quebrado a dias, todavia isso não é problema, a saúde é o ponto forte dessa moça de 22 anos. As escadas são muitas, porém a luz do corredor está acesa.


Neste instante o lustre do absurdo irradia suas ondas luminosas sobre as ruas, os grandes problemas estão lá, em cada esquina... na criança que deita sob a lua cinzenta do frio humano ou no pedinte que mastiga o lixo adormecido do edifício. Nesse ínterim, invoco Camus: em Kafka, a revolta dos homens dirige-se também contra Deus; as grandes revoluções são sempre metafísicas. E Deus, ao se fazer presente no meio dos homens, assusta as vezes, mesmo sabendo de sua existência o apresentamos... apenas nos surpreendemos quando ele se faz presente; é uma criança arteira correndo atrás de ovelhas.


A luz, o metal, ligas de ferro... é o deus-homem mostrando seu mundo... temos também fibras ópticas, raio laser... e daí! Isso não me interessa...


Se existem problemas na rua, minha casa também foi profanada... e nessa dubiedade do absurdo, a segurança faz parte das letras verborrágicas de nossas Assembléias Constituintes... somos deuses também, por isso nos profanamos. Nossas escolas... instituições corretivas, família, instituição também corretiva... nós nos profanamos todos os dias... quebramos o compromisso das vontades primevas e instintivas. Assistimos ao espetáculo da humanidade, ora em camarotes vazios, ora em limusines de luxo, aliás, também em carroças de gente.


A condição humana é uma implacável grandeza, temos também, em concomitância, uma absurdeza fundamental... Vivemos em casulos de seda... tecemos internamente nossa liberdade e nossa segurança, se nos profanam, entramos no casulo para daí sair só depois da confecção do tecido... ele agasalha. A inconstância de Albertina é exemplo disso, enquanto se volta à inquietante morada de sua consciência, se fecha ao mundo, mas sempre que quer, abre suas pernas, e introduz em seu sexo todo o concreto da metrópole e as lojas do shopping. A propósito, como ela conseguiria viver num apartamento, na região central de uma metrópole? ... é o caos revisitado. É o homem e sua implacável grandeza... isso é absurdo!


Exprimindo a tragédia pelo cotidiano e o absurdo pelo lógico, Albertina vai vivendo em seu casulo, tecendo sua seda. Entretanto, tal casulo nunca foi uma amarra, ao contrário, é ele que a liberta. Pode parecer absurdo (mas é absurdo mesmo), porém, contrastes como estes fazem parte de uma constância chamada vida. Mesmo no casulo seu envolvimento social é exemplar, afora as noites de boemia em que a alegria da vida se confirma, sendo festejada todos os dias, aliás, todas as noites... essa penumbra é uma ótima moderadora. A liberdade de Albertina se tece no casulo nobre da seda, acondicionado com o vagabundo perambular do pedinte. Anda livre pela noite, ora acompanhada de Dioniso, como hoje, ora de Apolo... senão, por vezes sozinha.


Quando chama pela tragédia grega, Tina se encharca de ensinamentos: ao pular no lago atrás de sua imagem, descobriu a beleza da grama rasteira e se encantou... voltou à terra. Tentou enfrentar Tróia, mas descobriu a beleza de Helena, dando razão a Menelau. Vendo os abutres que se aproximavam de seu fígado, pediu desculpas ao Olimpo... mas logo fugiu dali, foi para o submundo... sem se preocupar com Hades, consultou o sábio cego e voou até seu mundo (Tirésias sabe o que diz), como uma odisséia de 10 anos. Sob a escolta de Possêidon, que se irritou com seu irmão Olímpico, mandando uma onda gigante até o Monte, subiu aos céus novamente. É pena que não viu Édipo (também não queria...), o parricídio sempre foi seu desejo...


Quantos segredos escondem a mente humana, acho que os cogumelos do estábulo, ao fundo de seu edifício, morreram, restou a merda... Acabou-se o tempo das chuvas... ou será que está iniciando? Tina não sabe... Hoje é noite de Dioniso e Orfeu está a acompanhando. A noite promete!, e só isso importa... no momento.


"O coração humano tem uma tendência aborrecida, para só chamar destino àquilo que o esmaga. Mas também, a felicidade a seu modo, é sem razão por ser inevitável... o trágico e o lógico (ao mesmo tempo) fazem parte de nosso cotidiano, sabia? Li isso ontem, em Camus..." O carro está veloz, acho que ninguém ouviu nossa Tina...


Também, pouco importa... sei que o absurdo não se explica... porém traz a liberdade de ultrapassar os limites do coerente e do incoerente... o mundo está muito louco!



2002

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

"Limpeza Urbana"

O relógio marca as duas primeiras horas de uma madrugada fria na cidade.
Na praça, o de sempre, mendigos, jornais e cachorros tentam se defender da névoa e do vento gélido.
Mas algo parece dizer que a rotina será rompida.
Num átimo, dois carros param abruptamente acordando os bêbados e incomodando os malucos.
Alguns se levantam para esbravejar, mostrar quem manda naquele território, mas, logo percebem: eles são a caça.
Uns tentam correr outros apenas pensam nisso.
Os tiros seqüenciais dão o cartão de visitas.
Gritos e gemidos mal podem ser ouvidos e logo são interrompidos por mais tiros.
São duas e cinco quando começa a garoar, o silêncio volta a imperar na praça.
Mas, ninguém nos arredores consegue dormir, exceto aqueles “moradores da praça”: um sono tranqüilo e profundo, profundíssimo.

S.L.U.F.: Serviço de Limpeza Urbana Fascista:
http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/janeiro-2009/mendigos-sao-mortos-na-praca-do-indio/
http://oglobo.globo.com/sp/mat/2007/05/07/295650579.asp

Brasileiro



Toda a minha alegria é uma tristeza disfarçada.
Sou um folião desempregado que desfila na Sapucaí
esbanjando sorriso, a minha única posse.

Sou os fogos de artifícios
de Copacabana
acordando os mendigos famintos
com o barulho de milhões explodindo no céu
para a alegria fugaz daqueles que estão de barriga cheia
e não precisam dormir para enganar a fome.
Sou a noite escondendo
o sol por entre minha capa negra.
E a loteria que congratulou
mais um pobre com o dinheiro suado
de outros tantos pobres.
Sou a esquina mal iluminada
que estuprou mais uma menina.
Sou a pedra queimando numa lata de cerveja
alimentando a fome
chamando a morte
de mais um moribundo
menino homem de rua.
Sou um monte de dólares
dentro de uma mala preta
de um político
que comprou frango mais caro.
Sou o time campeão
que fez seus torcedores
esquecerem que estão desempregados
pularem na Paulista até o outro dia.
Aquele mesmo torcedor
que já esqueceu em quem votou
mas sabe de cor a tabela do campeonato.
Aquele mesmo Brasileiro
que nunca leu um livro
aquele que só sabe que Machado de Assis
é o nome da rua onde o ônibus
passa a caminho do seu serviço
Aquele que assiste ao Gugu todo domingo
e acha o melhor programa do mundo
aquele que vota no ACM porque ele é macho e sabe mandar.
Esse mesmo brasileiro
continua sendo o homem cordial
de Sérgio Buarque (o pai do Chico, filho do seu Sérgio)
que cresce indiferente
deixando o Brasil a Deus dará.

Eu também sou BRASILEIRO.


carnaval de 1999.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Viagem ao Fundo da Alma...


Albertina
Parte I



O absurdo de estar entre humanos é recompensado quando encontramos dentro deste absurdo a liberdade. Ao ouvirmos a condenação da vida, o sensato seria tê-la como um símbolo, pois, ela só se confirma quando a seguimos... se a liberdade faz parte do espírito de cada ser, todo e qualquer homem, ou mulher, têm, não somente o direito, mas, o dever de manter-se neste estado de liberdade. Apesar de sermos condenados, a vida prossegue... sempre amparada no absurdo, mas factível de vivência.

Dentro do extraordinário, a sensação de liberdade é intensa e ininterrupta... somente através da estranheza em relação ao outro podemos compreendê-lo. Fatos marcantes exercem mais poder sobre a vida, que a banalidade do dia-a-dia. No entanto, ao aceitarmos a estranheza de outrem o fazemos de forma simples e pacata. Sem dúvida, é este o clímax da narrativa... simplicidade no expressar vai de encontro ao espírito de aventura e da ausência de espanto.

Ao projetar no concreto, sua tragédia pessoal, os homens assumem o ônus da estranheza... o fazem de forma tão simplista que em um primeiro instante parece absurdo e contraditório, todavia, de fato o é. Absurdo na medida em que foge dos padrões pré-estabelecidos (isso é liberdade), e simplório porque é assimilado pelo cognitivo no ato do acontecimento, ou seja, imediatamente.

A própria vida nos traça surpresas diárias, vivemos condenados ao absurdo de nossos atos. E essa situação de auto-condenação nos aparece em mente sob a vestimenta da liberdade. Ser livre é ser capaz de rir da tragédia, é poder chorar da surpresa, sem ao menos entendê-la. Somos seres sensitivos... as paixões nos guiam.

A ausência de espanto, perante as absurdices do mundo, apenas confessa nossa liberdade, aliás, nossa simplória reação ao absurdo... não me espanto, no entanto, me surpreendo. Esta arte é tão depurada que, necessariamente, não nos espantamos diante do espanto... são nessas contradições que reconhecemos o absurdo, afirmando nossa liberdade... algum de vocês, amados leitores, se chocaram com a tragédia pluvial que matou 56 pessoas no Rio? E a Geisa, se lembram da professorinha? Afora, a Guerra no Afeganistão... quantos se chocaram com aquela chuva de bombas? Não me respondam agora, só se lembrem de sua reação diante da televisão, no dia em que o World Trade Center caiu.

Isso me lembra uma crônica que li n'O Estopim, há algum tempo, quando Geisa morreu. Peço licença ao leitor, como também ao autor, para reproduzi-la integralmente neste libelo:


Verdade e Dissimulação,
a Morte Agonizante
da(s) Cidade(s) Maravilhosa(s)
(10.05.00)


Esta semana, a cidade do Rio de Janeiro e assim, também o Brasil, parou para assistir na telinha da Globo cenas de despreparo, de frieza, de desespero e angústia; da polícia, do bandido, da Geisa e da sociedade, respectivamente. As situações extremas que a cidade vivenciou naquelas horas são sintomáticas da falta de rumo e do caos que se apresentam a cada momento na nossa frente, quando andamos nas calçadas, pegamos um elevador ou atravessamos a rua (cuidado com o ônibus!).

Assaltos acontecem todo dia. Seqüestros e mortes também. Quantas vezes lemos na primeira página do jornal: "Chacina deixa 10 mortos em favela do Rio". Ou: "Seqüestro com refém acaba em morte". Mesmo assim, rapidamente passamos para a página de esportes, de cultura, ou política. Não sem antes vociferar: Para onde vamos... quanta insegurança! E um minuto depois já estamos pensando em outras coisas, a final da Libertadores, a nova peça de teatro que vai estrear no teatro faraônico do Sr. Virgílio, a criança que acaba de nascer.

Mas sabemos que não precisamos ir muito longe para enxergar tais dislalias; é visto em quase todas as cidades do país, grandes e pequenas, cenas semelhantes. A violência virou arroz com feijão, e a carne crua em sangue tornou-se sobremesa.

Dessa vez, porém, as notícias policiais ganharam outra dimensão. Não importa se o Guga venceu, ou se o Sérgio Cabral não é mais candidato. O que está em questão é o desespero de viver em sociedade, a ausência de leis verdadeiras, a simulação da coerência, a angústia da morte visível, a felicidade do torneio de Roland Garros (para quem?)...

Geisa não é uma vítima ou uma refém baleada, talvez seja uma estatística na página 20; decerto uma mancha na calçada. Mas não, ela é simplesmente uma pessoa que sucumbiu a atitudes desesperadas, a vidas que se vivem em desespero. Por alguma horas, todos esperavam o final previsível: o bandido vai ser morto, e os reféns vão para as suas casas.

Só que a vida não é a novela das oitos. E isso é o que nos choca. As atitudes desordenadas, o caos; não estamos preparados para carregar estes fardos, ainda que o façamos todos os dias.

Nos esbarramos pelas ruas, puxamos o tapete um do outro, negamos esmolas, e aceitamos chacinas. Sempre com a cabeça no que realmente importa: o aluguel, o Guga, os amores, as contas. Esta semana, porém, o caos teve um momento de convergência, novamente sua sombra saiu da penumbra (será que está tão na penumbra assim?) para alimentar nossa sede de informações, nem que tais informações tragam junto de ti o pêndulo da morte.

Percebemos, graças à máquina de simulação, que todos carregam o mesmo fardo. Tudo com muita pipoca e guaraná ou talvez um filme de Holywood. Não importa, as mazelas da vida dão mais Ibope que o mundo dos sonhos.

A professorinha não sobreviveu. O bandido matou a protagonista. Os bons moços se mostraram assassinos covardes. E agora? Ninguém leu o roteiro? Os atiradores de elite não sabem escolher o armamento. O bandido é sobrevivente de uma chacina policial. A multidão quer linchar o seqüestrador. É impossível(!) achar coerência....

As caras soturnas nos bancos dos ônibus não vão durar muitos dias... Os policiais-assasinos serão julgados pela morte do bandido, e a prisão destes oficiais (será que serão presos mesmo?) passará a todos a sensação de que as coisas, afinal, não estão tão ruins assim e que tudo está normal de novo.

Longe das câmeras do mundo, na página 20 dos jornais do populacho, vítimas continuarão sem nome, e mortes serão somente estatísticas.

De vez em quando, alguns se perguntarão: Para onde vamos? Mas serão apenas lampejos momentâneos, logo o interruptor é apertado, e novamente a escuridão toma conta de nossas vidas e nos guia rumo ao incerto.


Mesmo sem conhecê-lo, me integro às suas idéias..., este, ao menos se assombrou com os fatos, mas os milhões de pessoas que também viram, compartilharam da mesma sensação?, não sei... todavia não tive outra pretensão senão a informação.

Nossas tragédias espirituais fazem parte deste paradoxo, somos livres, e dessa forma, nos contradizemos. É absurdo? Não, é liberdade... autonomia no pensar (não nos esqueçamos porém que nossas tragédias espirituais são totalmente diferenciadas das tragédias televisivas ou midiativas, uma coisa é questionar o absurdo de seus pensamentos, outra é se embasbacar perante as notícias e nada dizer). Nossos gestos cotidianos têm a força de traduzir nossas ambições externas; somos livres para buscar o contraditório e o incoerente e, concomitantemente, questioná-lo.


2002

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Viagem ao Fundo da Alma...


Edrid
Parte II


Antes de retornar ao nosso anti-herói, gostaria de apresentar-lhes um poema de Nilto Maciel, exemplificando nosso suplício:


Sísifo
(21.09.98)
Para Cátia Silva
O meu destino é semelhante àquele
imposto ao legendário rei coríntio,
que carregava ao ombro para o monte
pedra que despencava em avalancha.


Buscava novamente a rocha bruta,
subia o monte e, mal chegava ao cimo,
de suas mãos sangradas escapava
o mineral, que ao solo retornava.

E assim jamais o seu suplício ao fim
chegava, mesmo exausto, quase morto.

O meu suplício é semelhante ao dele –
a cada “não” que tu me dizes,
subo minha montanha, carregando pedras,
que se desprendem de meus ombros, rolam
ladeira abaixo, e volto a ti, pedinte.

E tu de novo dizes “não”, sorrindo.

Apanho minha rocha, subo o monte.
Se conseguir chegar ao cimo e lá
deitar a pedra, ao chão fincá-la, o “sim”
de ti terei; porém fui condenado
a carregar meu fardo vida afora
e vê-lo escorregar pelas escarpas.

E quando quase morto me encontrar,
sabendo, embora, que somente “não”
a mim dirás, ainda assim direi:
“Melhor este suplício, a ser feliz
longe dos olhos seus, vizinho à morte”.

Com o perdão de estimado poeta, mesmo sem conhecê-lo, exemplifico nosso anti-herói, senão nossa vida.

Enfim, a natureza sabe o que faz, se a vontade é o princípio fundamental de sua objetivação, então é nela que encontramos a liberdade. Por que digo isso? Simples, meu caro leitor, a vontade é independente da representação. Assim, também nosso corpo, o mesmo serve de instrumento para uma vontade superior, de ordem metafísica, que está acima das leis da razão. Ser livre é compartilhar dessas tendências, em benemérito da vontade superior.

Qualquer representação que seja, surge do noumenon, ora, dessa forma o inconsciente representa papel fundamental em nossas vontades... não nos esqueçamos de Freud jamais, pois, é ele que apresenta ao homem o importante papel do subconsciente e do inconsciente... quem há de explicá-los?

"A consciência é mera superfície de nossa mente, da qual, como da terra, não conhecemos o interior, mas apenas a crosta", palavras de Schopenhauer em O Mundo como Vontade e Representação, na estante, junto com Camus... sábias palavras!

A vontade humana não tem meta nem finalidade, ela é um querer irracional e inconsciente. Ao mesmo tempo que é nossa conduta, é também fonte de todo o nosso sofrimento, por isso a liberdade é uma condenação... estamos condenados a sofrer diuturnamente. A liberdade, tal como a vontade, é um mal inerente à existência humana, mas nem por isso deixo de buscá-la. A felicidade é, repito, inevitavelmente, a interrupção temporária de um processo de suplício. Só existe satisfação quando lembramos um sofrimento passado, gerando em nosso inconsciente a ilusão de um bem presente.

O prazer é um instante fugaz, em que nos esquecemos do sofrimento presente, ao lembrarmos da infelicidade do passado que, sem dúvida, foi maior. Dentro dos prazeres humanos, temos a arte como libertação passageira da vontade... entretanto, a superação total das 'dores do mundo' só é atingida na ascensão ao nível da conduta ética. Mas esta conduta não pode assumir o caráter de coerção, ela deve ser delineada através da contemplação da verdade, logo, a deglutição das artes... sejam gráficas, auditivas ou visuais, traçam o caminho da verdade alçando o homem até o patamar mais elevado da liberdade derradeira.

Não é a toa que Dom Quixote está sempre à cabeceira de Edrid, proporcionando-lhe momentos de libertação quase plena, intensificando o caráter de liberdade, contido neste ambiente modorrento e sombrio.

Ao exaltar o caráter artístico do homem, nosso anti-herói chama para seu meio a piedade..., estado de espírito em que o homem mostra sua humanidade mais piamente, ressaltando, com isso, o que o homem tem de mais puro. Essa comiseração, amparada na renúncia ao mundo, levará nossa vontade essencial a atingir a salvação da humanidade... a partir daí, a vontade absoluta se encarregará de conduzir-nos, fazendo descer a esta seara o conhecimento, inundando-nos com belas obras, sim... o beletrismo é o caminho.


2002


Viagem ao Fundo da Alma...


Edrid
Parte I



Se o homem está condenado a ser livre, resta-lhe então encarar essa condenação da melhor forma possível, e como tal, o sofrimento torna-se elemento primordial para a depuração.

No entanto, não podemos nos esquecer, queiramos ou não, que o sofrimento nos persegue até o fim de nossos dias, nem mesmo o pêndulo da morte o apaga... apenas ameniza. Só existe felicidade, aliás, falta de infelicidade, depois da morte. A vida é isso, momentos de sofrimentos intercalados por situações menos hostis, ou seja, o lapso de felicidade que nos acomete em determinado momento nada mais é que ausência de sofrimento.

"Esse ar modorrento e hostil, este odor de poeira constante... não posso pensar a respeito, é este o destino e, afinal de contas, o noumenon kantiano jamais poderá ser empiricamente apresentado, aliás, apenas no formato de representação. A coisa-em-si independe de nossas vontades... tudo o mais são representações. Eis o mundo, vontade e representação; por mais maciço que possa parecer, esta existência vai depender de meu estado de espírito, isto é, o fenômeno depende unicamente da coisa-em-si. Se não posso apresentá-lo, apenas vivo, aliás, apenas sofro.

"Assim é a vida, sofrimento constante, interrompido apenas pela ausência de dissabores.

"Todavia, tem algo que não posso me esquecer; o olvido me seria desleal, a representação da coisa-em-si não age sozinha. Ela é parte de um todo que não se divide: juntos, objeto e sujeito se intercompletam, são duas metades essenciais, necessárias e inseparáveis. O espaço e o tempo, indivisos, são a pluralidade em nossa vida, são tudo o que temos, no entanto, a coisa por si mesma não se encontra colocada no espaço e no tempo, diferentemente, ela resulta do espaço e do tempo, e nos é apresentada através de nossos sentidos. Ou noutras palavras, existem objetos que nos chegam aos olhos através de sua representação, nunca o objeto a priori, por si mesmo. O que nomeamos nada mais é que uma representação de um fenômeno exterior, apreendido por nossos mecanismos sensitivos. Nossos sentidos captam o noumenon e o transformam em algo cognoscível, seja pelo palato, visão, olfato, audição ou tato.

"Não pensem que formulei isso sozinho... não se enganam os que reconhecem Schopenhauer nestas divagações. É fato, o chamo para falar por mim... isso é minha personalidade. Sou livre no exato instante em que me fecho nessa biblioteca modorrenta e divago junto a esse sem número de pensadores, literatos e poetas. Sempre os busco para afirmarem meus atos. São eles únicos responsáveis por minha estrutura intelecto-pessoal. É claro que os transformo e os apresento... mas são apenas reflexo de algo maior, minha personalidade consolidada.

"Enfim, a coisa-em-si, ao contrário do que Kant escreveu, é a raiz metafísica de toda a realidade. As vontades humanas têm na raiz metafísica e ilusória o ponto de partida para seus projetos... sou todo vontade. Nossos sentidos podem conhecê-la cognitivamente, sintetizando-a metafisicamente e transformando-a em fenômeno representativo. Eis o mundo, repito, vontade e representação.

"A liberdade só se apresenta aos homens quando o sofrimento amadurece sua consciência, se não podemos ser felizes, ao menos somos livres..."

No ar carregado daquela biblioteca, onde se fundem pensadores materialistas, literatos românticos e poetas niilistas, além de santos espiritualistas. A liberdade está impressa em letras grandes e pequenas, livros de brochura ou capa dura... notem ao fundo, Stuart Mill e seu tratado Da Liberdade, grande obra de linhagem liberal, apesar de algumas incongruências e contradições no conjunto da obra. Está também junto aos papéis escritos muitas garrafas de bebida, vazias no canto, tem também muita cinza espalhada por todo o cômodo. É dessa forma que se encontra o ambiente de trabalho do nosso anti-herói... ponto de encontro de materialistas versus idealistas, românticos versus realistas... todos vivem sem intrigas, lado a lado e em perfeita harmonia.

Este é o mundo de Edrid, um anti-herói, sobrevivente de uma guerra e que não acredita em felicidade... talvez lembranças do front em Monte Castelo... tanto sangue, gritos e bombas! Vive só para confirmar sua sentença... a condenação desse viver insurge todos os dias, lembrando-lhe a vida... apresentando-lhe o mundo e suas dores; e neste interregno, nosso anti-herói apenas confirma o sofrimento.

Longe dos ares doentios da raça humana; a mesma que massacra seu irmão e decepa seu pai, Edrid respira sabedoria, se embriaga nos clássicos... sorve a vida com seus males sem desperdiçar uma gota de dissabores. Seu ciclo de vida são as quatro paredes que povoam este mundo acre, sombrio e gélido... as letras também podem endurecer o coração.

As quatro estações do ano se mostram apenas em formato de tratados especializados: os livros têm cores e formas primaveris, além de apresentarem o escaldante calor do verão. Temos também mórbidas letras que caem como as folhas do outono, mas, acima de tudo, a frieza invernal da pena schopenhaueriana... esta última a predileta de nosso anti-herói.

Se a vida é sofrer, não há diferença entre sofrer em casa ou fora dela. Pelo menos no recinto pessoal podemos exercer nossa plena liberdade, se é uma condenação ser livre, a intenção é usufruir ao máximo dessa condenação... vêem, ao fundo, do lado direito, em cima daquela pilha de livros? É O Estrangeiro de Albert Camus... pergunte-o... ele lhe responderá que estamos condenados e não sabemos. Tem também o Campos de Carvalho e A Lua Vem da Ásia, segundo ele, o hospício é um hotel de luxo e a liberdade, um relógio de ouro nos braços de um enforcado... Existem mais loucos fora dos muros que neles confinados.

A liberdade... ora essa, é o fruto de anos a fio, sorvendo os sabores e os sensabores das humanidades... ao humanizar-se, o homem confirma sua liberdade... só muita leitura pode referendar tão nobre estado.

No intervalo entre Kundera e Turgueniev sempre sobra um tempinho para Machado de Assis, mas a personagem preferida de Edrid é o Ludvik de Kundera. Foi ele quem teve a coragem de desafiar todo o aparato ideológico da ditadura stalinista com uma brincadeira juvenil, em um cartão-postal. Sim, este anti-herói, assim como nosso anti-herói, acreditam na liberdade humana, e ela só se torna possível quando, a dor causticante de uma ferida exposta, apresenta a putrefação sórdida e entediante de um sistema falido. Nem mesmo nossa jovem Lucie Sebetkova foi capaz de mudar o rumo da brincadeira juvenil de Ludvik... bem que Helena tentou... no final das contas, tudo acaba em Fumaça, como muito bem profetizou Ivan Turgueniev: a vida é uma aparente ilusão, em que o grupo intelectualóide das aparências traça planos e esbraveja verborragias. Até Aldous Huxley o disse, aliás, Huxley o disse pelas mãos de Anthony Beavis, e seu estudo contundente acerca da cegueira do homo sapiens..., está lá registrado em Sem Olhos em Gaza, do lado direito, na estante de Edrid.

Cego vivemos, sem compreender a real consistência de nossa vida e de nosso espírito que, diga-se de passagem, nada mais é que uma representação imperfeita e irracional de vontades mesquinhas e fúteis, todavia, aos nossos olhos adquire a perfeição sensual de Afrodite.

Essa irracionalidade mesquinha engana tanto os homens, e tão bem, que sua vida, repito, tem a aparência de uma perfeita existência... "Mal sabem estes tolos humanos que vossas vidas não passa de um mundo irracional e cego!" É por essa razão que nosso anti-herói ainda prefere a companhia dos livros, traças e garrafas vazias.

Apesar de sensabor realidade, o homem ainda tem um último consolo: sua consciência interior; desde que a mesma não esteja reduzida a mesquinhas imagens televisivas. Refletidas pela ignorante ideologia dos filisteus, revelaria a vontade primeva do em-si, trazendo á tona as fronteiras do entendimento humano, abrindo assim As Portas da Percepção, na parte central da prateleira poeirenta, assinado, também, por Huxley.

Dentro das fronteiras do entendimento se chegaria em algum lugar, uma vez que o homem teria maior consciência de seu corpo, sabendo então que sua matéria orgânica não passa de massa de objetivação da vontade. Nada poderia fazer, no entanto, encontrando explicações para suas vontades, apenas minimizaria seu sofrimento, exercendo a partir de então, sua plena liberdade.

Sísifo, rei coríntio, teve como condenação sua liberdade, todavia, sua obrigação eterna seria carregar pedras até o cimo do monte, que, automaticamente, cairiam logo em seguida. Todo esse suplício porque ousou ser livre e desafiar os deuses do Olimpo, contando segredos dos mesmos aos mortais... sua liberdade o levou à condenação eterna... sim, meu caro leitor, temos que carregar a herança de Sísifo, ele era livre, mas estava condenado ao eterno suplício... assim somos todos nós!

"Muitos me chamam niilista, porém, a estes homens pergunto: o que têm feito, senão reforçar sua falta de vontade? Se esqueceram de Sísifo?

"Pelos menos em meu estado niilista, carrego pedras até o cimo, entretanto questiono os poderes que interceptam minha vontade (eu já estava condenado mesmo...), sabendo discernir os vários estágios da dominação constante, consigo impedir sua entrada... pelo menos dificultá-la. Se ainda não roubaram minha vontade, sei que posso impedir-lhes de o fazer.

"Se isso é ser niilista, prefiro desejar o nada que servir de ovelha para este rebanho utilitarista e irracional. Lembrem-se de Bazárov..., caso se esqueceram... vão até a estante, ao lado de Fumaça está Pais e Filhos, sim, convoco novamente Turgueniev para falar-vos...

"Ser niilista é ser livre... posso comandar o ritmo que carrego as pedras, logo, comando também minha vontade, mesmo que em direção ao nada."


2002

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Insustentável Leveza das Palavras


A insustentável leveza das palavras
se repete no que elas têm de mais puro,
a gana presente de preencher lacunas.


Sua sobrevivência está nas hábeis mãos
de escrevinhadores que percebem
tal leveza e as carregam com mãos calejadas
no ombro da pérfida sustentabilidade,
que mesquinhas, se mostram pesadas.


Seu peso está no subjetivismo de
variadas letras repetidas, por não
saberem que existe um universo palavresco
nas mãos de um poeta menor, que as
repete para poder afirmar seu
analfabetismo de voláteis tempos escritos.


Os hieróglifos de tais códigos
escondem o profundo peso de
tão sustentável leveza...


Em papéis escusos as reprimidas palavras
se inserem no escorrer diário de sua nobre criação,
uma criação que a cada dia se concebe,
como deusa nos louros reais de sua essência.


Guardo em mim o odor aprazível de
uma insustentável leveza que,
em formas palavrescas sustentam
o nobre ato de bailar das palavras em festa.


Sua música me chega aos tímpanos
como uma melodia, que codificada
em palavras, se concretizou na
forma de um versar inquieto.


Inquieto vivo..., palavras povoam meus versos.


18-01-1999

Viagem ao Fundo da Alma...


Tarso
Parte II


A poeira irrita os olhos, no entanto Tarso sabe da necessidade destes dissabores, que importa irritar os olhos, enchê-los de lágrimas? “O importante é alimentar nosso espírito de liberdade, este sim, mote da vida de todos. Sem essa terra toda para trabalhar, o que seria de nossa vida? Ainda mais agora que as chuvas do verão estão encharcando nossas terras... a ramagem estava tão amarelecida, hoje vejo este horto verde e belo... a cálida pureza da vida é o brotar de flores novas... É preciso arar logo a terra, evitando mais um prejuízo da lavoura.”

A sede é forte, o sol escaldante. A pele fustigada pede um alento, é preciso uma pausa no labor.

"A vida pode não ser fácil, mas a sensação de tomar uma água fresca, no momento exato em que o sol castiga a mente, é magnífica. Imaginando a vida, sinto o sol... é neste momento que me vem a sede. Não importa se é quente, importa a mim, somente, sentar sob esta bela e frondosa árvore e sorver o líquido sagrado da vida.

"Assim é o viver, estou embaixo deste sol escaldante, carpindo minha terra, todavia, quando chegar a hora da colheita, a fartura transbordará sobre a mesa. É quando sinto-me recompensado, só a partir de meu labor conseguirei mesa tão bela. Eis a riqueza do trabalho... levanto muito cedo, é certo... transpiro em excesso, também... mas isso é nobre... é rico. Tenho uma vida extremamente sistemática, porém, no final, sou recompensado por Deus e por Sua fartura maravilhosa. Entretanto, é graças à obediente entrega ao trabalho.

"Sei que não é muito, sou humilde, mas a beleza de ver estas plantinhas florescendo fazem meus olhos brilharem. É aí que noto a grandeza de meu pai e seus ensinamentos... é graças a ele que sou livre e feliz. Ao lembrá-lo, penso na vida que teve e na segurança com que a levou. É quando afirmo com alegria minha vida, na regrada existência de seu ser, invocando-a para mim. Vencerei tendo nele um exemplo para meus atos.

"Em contrapartida me entristeço quando vejo pessoas que não dão valor à vida, praticando a ociosidade, levando uma vida desregrada... absolutamente mundana.

"Desprezam o trabalho, alimentam a desordem e blasfemam perante Deus. São seres desprezíveis... será que não se cansam dessa jaula?... Transformam sua liberdade em um estado vazio de coisas, ignoram que só homens úteis engrandecem esta terra, consequentemente, desprezam sua liberdade. A transformam em andanças desvairadas... mentes ociosas que insistem em permanecer na sua futilidade!

"A liberdade verdadeira, esta sim, não está em criar uma coisa nova, senão em reproduzir da melhor forma possível as coisas já existentes. Só é forte e livre aquele que se utiliza da tradição para crescer na vida. Se está aí, é sinal que foi empiricamente testada, e como tal, infalível... nós sim, somos falíveis. Para não tombar temos que nos amparar em algo maior... é quando conclamo novamente a Santa Providência. Isso sim é liberdade, reproduzir da melhor forma possível, sempre amparado nesta força superior e etérea. E meu trabalho, sei fazê-lo tão bem... por isso sou livre!

"Reproduzo a natureza e a realidade, logo, sacramento minha vida, ao passo que a mais sacra das criaturas é aquela advinda da natureza. E é esta natureza a produtora de minha liberdade... sem esquecer é claro, das mãos sempre fortes da Divina Providência. Contudo, esta liberdade só se afirma quando também produzo junto à natureza e para a natureza.

"Somos nós que construímos a liberdade, logo, ser livre é trabalhar arduamente e de forma aguerrida. Sei que o trabalho é causticante, sobremaneira, sei também o quanto dignifica o homem... enobrece-o.

"Essa terra que aro, por exemplo, me dá liberdade. Dessa forma, se perco meu trabalho, perco também minha liberdade. Outrossim, se fujo à tradição, também perco a liberdade, pois, foi tão arduamente ensinada por meu pai e guardada por minha mãe.

"Tendo na vida o bem e o mal, tem-se também o compromisso com as coisas sérias. Essa seriedade só pode ser encontrada no caminho do bem, que, neste caso, seriam o trabalho, a probidade, a responsabilidade e a moral. Quando opto por este caminho, opto também pelo trabalho... por isso sou livre.

"Imagine, achar que ociosidade é ser livre!?

"Preciso voltar ao meu arado. É esta seara que me confere a liberdade."

A vida prega ciladas no homem... mas não importa, Tarso só sairá de seu horto ao entardecer. É quando o sol findará seu ciclo mais uma vez. Chega-se então o momento da penumbra, e essa passagem entre o fim de um ciclo e o início de outro pode parecer branda e triste, todavia apresenta uma luta voraz... espíritos povoam as matas, cores rasgam o céu... é o Globo (diga-se Deus) dando outra volta. É o momento em que a escuridão toma o lugar da luz... para uns alegria, para outros tristeza... têm ainda aqueles que vêem este momento como um descanso, enfim... por mais que os pássaros entoem triste suas cantilenas, e a névoa reine despeitada, o ciclo continua e Tarso volta para casa... sua mãe o espera.

O caminho é triste e solitário, a penumbra já toma conta de todo o capoeirão... na escuridão só vultos. O crepúsculo nunca tarda, ídolos são massacrados enquanto outros renascem... será que as ninfas e os duendes acompanham nosso herói? Não importa, Tarso necessita rever sua família e descansar... a saudade de mais um dia surge pelo caminho e deixa rastros na poeira alta... mas antes, nosso herói cumpriu mais uma vez seu ciclo... sua liberdade assim o permite...!

2002



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Viagem ao Fundo da Alma...


Tarso
Parte I


"Vivo em um corpo emprestado, talvez eu seja um dublê de retrato... o não pertencimento se parece muito com esse sentimento. Será isso um estado de espírito? Não sei! Mas também, pouco importa... preciso retomar minha atividade... é a responsabilidade e o trabalho que me possibilitam a liberdade."

O campo é vasto, repleto de boas-novas e de ervas daninhas, todavia sua persistência é infinita, as vezes ultrapassa o ciclo dos homens.

Apesar de ter assumido responsabilidades muito cedo, Tarso entende que tal situação é necessária, sobretudo quando estas responsabilidades lhe possibilitam a liberdade. Ele sabe que sua vida sem a liberdade não tem o menor valor. Assim foi a vida de seu pai, assim será a sua...

Sério seguidor das tradições, somente dentro delas se sente livre. Este homem de bem, valoroso, sempre disposto ao trabalho e às responsabilidades, filho exemplar... o que mais uma mãe poderia querer? Nem mesmo a labuta tira a seriedade de homem tão probo... é cedo que se aprende a trabalhar dignamente. Tens o trabalho como uma religião, sua natureza sagrada é a alavanca de uma vida honesta e ordeira. Nada melhor que viver em harmonia com as pessoas e em consonância com os bons costumes. Ética e moral são os dois pilares de uma vida feliz e regrada.

Necessariamente, estes são os valores que Tarso optou por seguir e, como tal, sua vida é extremamente sistemática e correta. Até os detalhes podem marcar a integridade de um homem... apesar de suja, pelo trabalho na terra, tens a camisa sempre impecável... caráter, eis a palavra certa.

Ele sabe que o modo como nosso corpo elabora a vida escapa-nos por completo. Dessa forma, só uma vida minimamente organizada e excepcionalmente controlada pode livrar o corpo dos males da vida mundana. Uma vez que não se pode exercer controle sobre o mesmo, resta-nos apenas seguir a estrada com presteza, evitando os atalhos e o caminho tortuoso.

A vida humana carece de ordenação, logo, segue Tarso sua vida. A regularidade é seu norte condutor. Porém, em alguns momentos de insanidade acorre-lhe pensamentos sombrios. É neste momento que procura a luz do dia e sua labuta diária, é preciso esquecer... ao fazer isso, seus pensamentos ruins se dissipam.

Como dito acima, dentro da tradição, alguns detalhes podem afirmar a probidade dos homens. O olvido é um deles, sempre que possível é necessário se esquecer das desventuras do passado. Uma vida íntegra deve manter certa regularidade, sua pureza deve advir desde o nascimento. Caso surja pelo caminho uma situação atípica, não prescrita, o bom homem deve se lembrar da Santa Providência, afinal de contas, nossa vida provêm e é provida por ela.

O essencial para olvidar tais desventuras é a luz do dia seguinte, com sua lida regular. Ao transpirar, o homem amadurece sua obra, e esta obra, ao amadurecer, dará frutos belos e límpidos. Porém, esta façanha só é possível após uma vida de suores, o lazer nada mais é que o trepidar do arado e, logo em seguida, o roçar da enxada; isto sim é diversão. Tendo no trabalho o norte da vida, tem-se a dignidade de seguir altaneiro e sóbrio.

Estas lições de vida Tarso traz de seu pai, homem, também, probo e íntegro... jamais deixou a família passar qualquer tipo de necessidade, apesar das desventuras de um dia macabro e chuvoso... Desde tenra idade, assim como seu pai, soube valorizar o trabalho, desprezando a vida mundana... esta última, vale de lágrimas e desesperos.

Aprendendo que o homem só adquire sua liberdade após muito labor, aprendeu também a valorizá-la, dia-a-dia, como uma ode aquilatada pela ventura e apresentada pela sensatez.

Ao pensar no vazio, estará traindo a si mesmo, porque uma vida vazia pode comprometer nosso estado de consciência. Mente ociosa, além de ser perigoso, faz as pessoas pensarem em coisas erradas. Ao pensar no vazio estaríamos nos esvaziando também, por isso a necessidade de pensar nobremente. Os que ficam a divagar sobre substâncias fúteis não produzem. Somente com bastante produção atingimos a liberdade... liberdade é poder usufruir das coisas. É a produção o caminho para a utilidade, caso a vida perca sua utilidade, ela se nulifica. Eis o motivo de Tarso valorizar tanto seu trabalho, exemplo que deve ser seguido por todos, sem restrições.

Pobre do ocioso, este sim perde sua liberdade em detrimento da futilidade do mundo. O viver deve vir atrelado ao labor e à ordem. Uma vez que liberdade é labor (e ainda, a vida nos cobra este labor, alijando-nos da nulificação), ser livre é trabalhar em prol da família.

2002


domingo, 1 de fevereiro de 2009

Devaneios de Mim Mesmo


L.A.M.
Parte II


Maldito seja, aquele que blasfema contra a ordem, subvertendo valores, recriando idéias. Insistimos na desordem, subvertemos a razão. Se somos deuses, não sei, Nietzsche achava que sim, mas isto já faz parte das quatro vidas que encontrarão, e dessa forma você, leitor ou leitora, também encontrará respostas, nem que sejam contrárias.


Maldito aquele que ousa viver em liberdade, proclamando a vida..., uma vez que a vida se repete nos reflexos da sensação do absurdo, isto é, é como se desenhássemos a maluquice de nossas vidas em nossos lençóis com todas as letras e formas, para, logo em seguida, lê-la em voz alta, ou mesmo rasgá-la... para além disso, nosso espelho pode refletir a visão invertida, reforçando nossa situação humana. Assim, mostramos aos homens que também somos homens, nossa vida é nosso espelho..., as vezes lido em voz alta, outra aos sussurros. Sim, caros leitores, nossas quatro personagens ousaram viver dessa forma, por isso, é possível que se simpatize com alguma personagem... não sei, apenas você poderá dizer. Afirmo apenas o seguinte: nossa vida é uma grande aventura, alguns preferem não arriscar, já outros, jogam tudo... somos todos jogadores.

É nesse ínterim que apresento-lhes a vida de quatro pessoas, a noção de quatro vidas... valores se confundem, histórias se entrecruzam. Assim é nossa vida, tal como a deles... temos a ânsia de viver. Dessa forma, também é a vida de nossas personagens, eles também têm a ânsia de viver. É claro que posso manipulá-los, conduzi-los... mas não o farei. Cada leitor encaminha tua história, cada leitor conduz teu predileto... tanto é verdade que os capítulos podem muito bem ser lidos em blocos separados, as vezes sem muita coerência de início, meio e fim. Porém, não se preocupem, essa configuração foi proposital, assim o fiz para ceder-lhes a mesma autonomia que me invadiu ao desenhar estas letras. Tento lhes apresentar a liberdade de decidir a vida de cada uma das personagens, ou mesmo, tua própria vida... amigo leitor!

A grande busca... a longa caminhada! Vos apresento a liberdade com o propósito de lhes permitir desenhos e decisões, novos e belos caminhos. Que saias como um rabisco, todavia permita a liberdade de mostrar tais rabiscos. Se a vida é um esboço, a liberdade é a mão que desenha este esboço... até mesmo o esboço respira a absurdez embriagante da liberdade... do espírito libertário e criador.


Crie vosso roteiro, apresente vidas e descubra tua liberdade... a liberdade de conduzir vidas.


2002