sexta-feira, 30 de maio de 2008

Seção D'Outro


What is the brother?
Por: Ivan Moraes Filho


Encontrei este texto no blogue Bodega (http://www.bodega.blog.br/zuvidizoio/what-is-the-brother/), como o próprio autor do blogue diz, pode parecer um vídeo um bocado tosco, no entanto, traz algumas imagens interessantes e, o que mais nos interessa, a forma como ele canta a música, com seu sotaque é carregado é uma espécie de melodia ao avesso... vale a pena conferir.


"Esse vídeo aí embaixo me foi mandado de presente por Dan Souza no dia do meu aniversário. Trata-se, como o emissário mesmo denuncia, de um vídeo revolucionário.

Um cara, do interior do interior da Paraíba. Alguns equipamentos, algumas idéias. Um retrato do que ele pensa e de quais são as demandas da turma dele, do cotidiano dele.

Você pode dizer que é tosco.

Você pode dizer que o cara é feio. Você pode até questionar o título e o refrão em inglês quando o cara não parece ter qualquer intimidade com a língua de Shakespeare.

Agora, conheço um monte de gente tosca feia e ruim que tá ganhando dinheiro com um monte de nojeira por aí. Ednaldo Pereira é um sucesso. É um empreendedor. Um batalhador que tem muito mais do que um créu na cabeça.

Mais de 100 mil pessoas já viram esse vídeo na Internet. Ele tem outros também.

What is the brother?"

A criatividade do brasileiro, principalmente quando a intenção é protestar, ultrapassa os limites do senso comum, daí sua grande valia e, principalmente, seu grande elemento rebelde. Até o mais tosco dos protestos, bem como o mais tosco dos interesses a protestar, nos deixam com uma sensação de non sense, devido justamente o vigor de referida rebeldia. Não convém aqui questionar motivos, nem tampouco falar deles, mas demonstrar e apresentar o quão são interessantes e criativos.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Nietzsche e Descartes... uma Peleja!


Ao atrelar instinto e razão, é como se o homem visse de forma mais profunda os elementos que o circunda sem, com isso, ainda reforçar o externo para dizer sobre o que viste tão profundamente em seu Eu. Este ver em profundidade tira do homem sua situação de rebanho, como não convém tirar isso do homem, pois, não tirando, ele será mais facilmente manipulável, optou-se por destruir os últimos resquícios daquilo que poderia fazer do homem um objetivo em si mesmo – seu instinto. Daí se aproximar mais da profundidade do saber.

Por outro lado, o alheamento, que desde o início fora adotado como estratégia para Nietzsche, só faz sentido quando o que está posto seria, justamente, o mundo moderno, este mesmo que Descartes racionalizara, dando uma mãozinha para seu nascimento, logo, nos mostrara sua superficialidade, pois, de outra forma, não haveria necessidade do mesmo.

E seria o medo de se aprofundar, pois isso não conserva a espécie, que faz com que Descartes se apresente como superficial, pois, para Nietzsche em Além de Bem e Mal; § 59: “Quem observou o mundo em profundidade, percebe quanta sabedoria existe no fato de os homens serem superficiais. É o seu instinto conservador que lhes ensina a ser volúveis, ligeiros e falsos. Aqui e ali encontramos, entre filósofos e entre artistas, um culto apaixonado e excessivo das “formas puras”: ninguém duvide que quem necessita de tal maneira adorar a superfície, em algum momento fez uma incursão infeliz por baixo dela.”

O fato de tentar se conservar, fez com que, no jogo entre razão e instinto, a filosofia tenha sempre optado pelo primeiro elemento, apesar de antes de Descartes ambos aparecerem, ao menos, como algo a se pensar; diferente do período pós Descartes. E o projeto Iluminista, por não ser diferente, e por fazer parte deste percurso, nada fez que, também, priorizar a razão. Deixando o mais profundo do filosofar, sempre, em segundo plano – mais profundo, ao menos sob o ponto de vista de Nietzsche; mas não somente o instinto, e sim o eterno embate entre instinto e razão.

Se Descartes fora superficial, também o fora o projeto Iluminista. A crença na inexorabilidade do saber racional, sempre tentou se fundamentar por apenas um saber racionalmente comprovável, e não o instinto: que traria um outro norte, e um outro elemento – como o abismo, por exemplo, ou mesmo o pensar sobre o abismo – para o próprio saber.

E André Luís Mota Itaparica, num artigo de 2000, publicado na revista Cadernos Nietzsche da USP, intitulado Nietzsche e a “Superficialidade” de Descartes nos afirma isso com mais veemência, na seguinte passagem: “Vemos então que, dentre os filósofos mencionados [Sócrates e Platão], Descartes teria sido o mais astuto, pois, ficando na superfície, negando toda e qualquer importância aos instintos, teria sido o mais eficaz em ocultá-los.”

Apesar de tudo isso, o que diferencia Descartes de Platão e Sócrates é que estes ainda postulavam a probabilidade dos instintos, diferente de Descartes que, pelo cogitare, negaria completamente estes instintos, como elementos necessários e constitutivos da fundamentação e criação do saber.

E como Descartes seria o pai da modernidade, e o avô do Iluminismo, a inflexão nietzscheana teria nele, exatamente, seu maior referencial de contra-prova.

O próprio alheamento seria diferente do cogitare, como afirma Descartes em Meditações, que faria o seguinte caminho: “Quando alguém diz: Penso, logo existo, ele não conclui sua existência de seu pensamento como uma coisa conhecida por si. Ele a vê por simples inspeção do espírito. Como se evidencia do fato de que, se a deduzisse por meio do silogismo, deveria antes conhecer esta premissa: tudo o que pensa é ou existe. Mas, ao contrário, esta lhe é ensinada por ele sentir em si próprio que não possa se dar que ele pense, caso não exista.”

Até há o sentir em si próprio, como o fragmento se-nos apresenta, contudo, este sentir em si próprio parte da premissa de que tudo o que pensa é ou existe, eis quando surge a possibilidade do erro, justamente por este ser pensante partir do exterior para poder se afirmar, ou melhor, partir do que é ou existe, e, com isso, afirmar seu próprio pensamento, afirmando com isso, cada vez mais, o rebanho.

O elemento externo, e isso fica bem evidente em Nietzsche, está propenso a um constante enganar-se, até para não deixar transparecer as segundas intenções.

A superficialidade de Descartes, poderíamos resumir da seguinte forma, como nos apresenta, novamente, Itaparica: “Descartes foi superficial, enfim, por conceber o pensamento em sua superfície – a linguagem –, escondendo que a lógica repousa na crença em uma verdade universal e necessária, cujo único fundamento é a postulação de um Deus sumamente bom. É assim que Nietzsche pode se dirigir àquele que diz eu penso, e ao menos sei que isso é verdadeiro, real e certo da seguinte forma: Caro senhor (...), é improvável que o senhor não se engane; mas por que sempre a verdade? – (JGB/BM, 16).”

E o próprio fato de Descartes pensar Deus como sendo sumamente bom, já nos demonstra uma certa inocência de sua parte, pois, esta noção nos fora incutida por toda a Tradição, logo, por elementos externos, propensos ao erro. Basta pegar as tragédias euripidianas, no exato momento em que a trama apresenta um nó, e como o deus ex machina intervém, ou seja, como ele direciona para um fim que ele desejaria que acontecesse, e não o fim no qual a trama desembocaria consequentemente.

Ora, pode-se dizer que o Deus cartesiano, sendo também o Deus cristão, não faria isso, mas fica a grande questão: e por que há a intervenção? Se não por parte dele, ao menos por parte da culpa que nos fora incutida, quando de nosso nascimento, e do pecado original.

E isso é totalmente válido para a filosofia cartesiana, o quê dizer então duma possível filosofia nietzscheana?

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Sexo e Futebol: com a Palavra; os Britânicos!



A máxima de que o sexo é um ato selvagem, coisa de ancestrais longínquos, quase animais, e seres primitivos, homens estes em que a sapiência ainda não atingira patamares necessários de existência digna, regado a muito preconceito, pode parecer algo distante, todavia, conforme pesquisa divulgada recentemente pela BBC de Londres (http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u403311.shtml), é uma realidade cada vez mais frequente entre os britânicos. Um país onde, há muito tempo, sua diversão virara sinônimo de enriquecimento – às vezes ilícito, às vezes lícito, travestido de lavagem!

Ainda mais quando sua predileção vai para o lado do futebol (e nada melhor que a Inglaterra para falar do mesmo, afinal de contas, é o país onde os clubes são os mais ricos e que tem os dois melhores times do continente, ao menos, melhores do ponto de vista do investimento e do gargalo ilícito de transferência de bens e valores: vide a final da Europa Champions League, entre Chelsea e Manchester United; vencida por este último), embora um futebol que se tornara mero deleite capitalista para acumulação de bens e capitais, diferente da magia e da alegria do futebol de várzea, este mesmo, humilde de dinheiro e rico de talentos.

Sendo a Inglaterra um dos pontos máximos do capitalismo atual, não é de se espantar o resultado de uma pesquisa como esta, aliás, é apenas de se esperar que tal resultado se concretizasse... triste realidade para alguns, ricas benesses para outros (que o diga Roman Abramovich e Malcolm Glazer). Talvez isso explique o resultado: num local onde diversão é considerada mera coisa deixada de lado, nada como mirar os olhos para aquilo que é maior (?!): o dinheiro; logo, tamanha predileção por um esporte que se tornou local mais apropriado para a lavagem de dinheiro de corrupção e roubo – afinal de contas, assistir futebol é melhor que fazer sexo, não é mesmo, senhores britânicos? Seria mera coincidência de um país onde o capitalismo conseguiu se tornar ponto alto de justificação moral e coletiva?

Considerados os povos mais elegantes do mundo, uma frase me parece surgir da boca destes lordes “Sexo é coisa de estivador, a Europa não perde mais tempo com esse ato selvagem”, afirmando, tão-somente, um problema de milênios e confirmando um lugar-comum dos mais sabidos, além de nos mostrar apenas uma justificação para o uso e lavagem de tanto dinheiro, num lugar onde nada melhor que este último – e em Libras Esterlinas, o que é melhor: a moeda mais forte do mundo, do ponto de vista de valores – para nos proporcionar prazeres carnais múltiplos, ou conjunções carnais dignas de deuses; nas palavras de Xico Sá, colunista do caderno Esportes da Folha de São Paulo.

Encerro por aqui este texto, afinal de contas, logo abaixo dele tem um que explica de uma maneira primorosa possíveis desdobramentos de um outro constructo moral possível, além do mero ver futebol ao invés de fazer sexo: obviamente, não com referência direta ao sexo, mas ao capitalismo e sua consequência inglesa mais gritante: o futebol!

O texto adiante é somente um petisco do que o Aforismos: Anarquia (http://clioedionisio.blogspot.com/2008/05/aforismos-anarquia.html) – um belo aforismo por sinal, sempre Clio nos mostrando o que de fato sabe: és um adulador das belas palavras, do belo texto e do belo dizer – tem a nos dizer: “Nesse sentido, a sociedade do futuro não é o contrário da sociedade burguesa, nem o socialismo o contrário do capitalismo, mas uma forma diferente de viver, imponderável para os que vivem hoje, imprevisível e com todas as variáveis que o hoje nos possibilita ver, mas também com todas as variáveis que nem podemos imaginar. É nisso que consiste a nossa defesa na autonomia, na autogestão, enfim, na ação direta dos próprios interessados na mudança.”

Aforismos: Anarquia

A Ação Direta

Como os pensamentos e as práticas da ação direta atravessaram os diferentes militantes e se propagaram em diversas direções?
Talvez a pergunta correta a se fazer não seja como, mas o que constitui este atravessamento que liga diversos e diferentes indivíduos a direções e projetos semelhantes, quiçá, comuns?
A ação direta é uma recusa de uma via política saturada. É o método da autogestão, isto é, constitui-se na própria autogestão em movimento. É estratégia que põe a “máquina de guerra” em ataque, que impõe a luta de dentro para fora, uma implosão (uma guerra política ou uma política de guerra): desgastando, corroendo, minando as forças do Estado capitalista.
É um vírus que contamina, espalha e dá ânimo ao instinto de revolta adormecido. Trata-se da capacidade humana de se indignar. É o móvel bélico que ocupa/desocupa espaços e não-espaços, imprevistos, que escapa e desaparece quando é contra-atacado e ressurge, na invisibilidade do disfarce e da camuflagem, onde o Estado policial ainda não controla, é a ação que se antecipa ao controle, o ludibriando, que finta a marcação da tática disciplinar. Enfim, a ação direta cria o novo, o inesperado, o “milagre” na repetição, no provável, no determinado. A ação direta é uma sensibilidade do inconformismo, um uivo de agonia, um espasmo de ira, uma recusa à uniformidade de controle.
Suas histórias impregnaram toda a humanidade, desde os mais remotos tempos, até ser nomeada, enclausurada, aqui ou ali, temporariamente (pois é fuga incessante), em um ou outro campo de força, mas, sobretudo, trata-se de uma idéia, um método, uma estratégia, um modus vivendi... sem dono, autor ou culpado.

Ação Direta II
Anarquismo... Uma falsa unidade

Seguindo a linha da crítica à formação discursiva de Foucault, o anarquismo se forma a partir da prática da ação direta, é em torno da idéia de ação direta que se torna possível a unidade que conhecemos por anarquismo. Mas em que consiste esta unidade e até que ponto a ação direta como marca do anarquismo é em si restrita a prática libertária.
A emergência dessa prática na modernidade ocorre em oposição às novas formas de vida burguesa e às rupturas que a instituição da sociedade burguesa impõe aos costumes mais tradicionais, às organizações autônomas das manufaturas, das comunas, enfim, ao alheamento dos trabalhadores autônomos trazido pela industrialização e a perda de seus padrões de controle da produção e da propriedade de seus instrumentos de trabalho, açambarcados pelo Estado burguês.
Foi no bojo da instituição da sociedade burguesa, da liquidação da sociedade do Antigo Regime que ainda permitia uma certa autonomia dos produtores sociais que se formaria em oposição ao liberalismo democrático, aristocrático ou monárquico a prática da ação direta como resistência ao progresso técnico de uma classe dominante que se instala no poder com outro tipo de domínio, não mais o de sangue, o da honra aristocrática, mas o do capital, o da propriedade que expropria os produtores, e que se apropria da produção e da pequena propriedade autônoma.
A classe operária e seu instinto de revolta não surgem da sociedade burguesa, mas da resistência a ela, da oposição à técnica de dominação que a burguesia tenta impor ao se apropriar da democracia grega e lhe impor contornos modernos de representação para suprimir o obstáculo da tradição aristocrática. É no romantismo que encontramos o ritmo da revolta camponesa e depois operária, é ali que a contra-revolução burguesa via camponeses e marginalizados de toda a ordem, se impõe contra o Iluminismo que pretendia inaugurar o progresso, mas este, impõe um novo tipo de escravidão. São os ludditas, os cartistas, os camponeses, os citadinos das comunas que se opõe ao nascimento do Estado burguês, da indústria, do liberalismo que se constituem nas condições de possibilidades do discurso da ação direta. O proletariado explorado nas grandes cidades industriais forma outros núcleos de discursos da ação direta e não marcam uma continuidade obrigatória com os explorados do passado.
Tendemos a acreditar que o que conhecemos por anarquismo seja resultado de uma formação discursiva construída a posteriori, mas escrever isto é não dizer nada, pois o que nos interessa a partir dessa constatação são as condições de possibilidades de onde puderam emergir essa suposta unidade prático-discursiva e quais seus enunciados aglutinadores e o que expressam de relações de poder no contexto que emergiram.
Não nos interessa nesse estudo buscar a origem do anarquismo, até porque, dentro de certa perspectiva a qual aderimos, tal busca é vã pelo simples fato da unidade constituir um constructo representativo dos jogos de poder no contexto que ele emergiu. Portanto, o que nos instiga é a correlação de forças que propiciaram uma prática que se diferenciava em vários aspectos mesmo dentro do campo dos socialismos revolucionários, das outras táticas de luta. A prática anárquica nunca teve um estatuto seguro, e talvez nunca tenha sido vista de forma completamente positiva.
Na longa história de governos e instituições de poder, a anarquia era desordem, bagunça... quando foi então que o termo passou a ter status de positividade no campo socialista. Ao longo da história do anarquismo, da formação de sua unidade discursiva, o termo nunca foi uma unanimidade entre os simpatizantes da revolução, alguns como Guillaume chegaram até a propor a mudança de terminologia. Só isso já bastava pra pôr fim à idéia de um movimento anarquista ou de um anarquismo? Talvez não, mas complexifica o problema, pois o que muitos historiadores utilizaram como ponto de partida, como um fato inconteste, um certo movimento anarquista ou mesmo uma miríade de militantes que se aglutinavam em várias tendências que compunham pluralidades de anarquismos, não passava, contudo, tanto anarquismo ou anarquismos de construtos a posteriori, que não representavam nem expressavam os grupos militantes ou as forças em luta no âmbito dos movimentos operários revolucionários.
Sabemos que um dos primeiros socialistas a utilizar o termo de forma positiva fora Proudhon e que por isso, muitos historiadores que se diziam anarquistas passaram a ver em Proudhon, o fundador do anarquismo moderno, porém, esta tentativa mais revela a fragilidade de um saber, de um passado do que o contrário.
Muitos homens a partir de um critério construído a posteriori foram considerados anarquistas, homens, porém, que nunca teriam se denominado de tal forma. Mas qual o significado de tais constructos históricos? Que poder tem um historiador de dizer que uma pessoa foi ou não um anarquista, sem ao menos inquiri-lo, sem ao menos levar em conta se havia possibilidade no percurso de vida de tal pessoa, de sê-lo anarquista? As continuidades que se estabelecem, muitas vezes, de um grupo militante a outro, de uma tendência à outra, enfim de uma tática a outra, são falsas construções, emendas frágeis que não conseguem encobrir as lacunas. São apenas sínteses a priori.
Se devemos buscar não a origem, mas pontos de emergência de práticas anarquistas ao longo da história, não podemos inquiri-la de fora, mas a partir de suas forças em jogo. O que fez Proudhon se denominar um anarquista? O que caracterizou os discursos de Bakunin? Mas antes disso, isto é antes de cairmos no erro da falsa unidade do indivíduo, de sua obra, devemos indagar sobre as condições históricas da época que proporcionaram as práticas anarquistas? A continuidade de um discurso anarquista é marcada por emendas que procuram ocultar lacunas e abismos, por vezes, quando problematizadas, intransponíveis.
Qual seria a marca que sustentaria tal unidade de discurso? Que características justificariam a nomeação de anarquismo? Quais as ações e dizeres necessários para que em determinada época, mesmo contra a vontade e sobre a constatação de certa inconsciência dos indivíduos que a viveram, eles pudessem ser chamados de anarquistas, ou pudessem se autodenominar anarquistas, sem que isso, fossem-lhes uma ofensa e tivesse ao contrário uma certa positividade? E que sentido havia em ser anarquista dentro do imaginário do socialismo revolucionário?
E assim, apesar de entendermos que a classe operária principal portadora, ou principal condutora dos ideais libertários dos militantes anarquistas, apesar de a vermos não como herdeira da burguesia revolucionária, nem como resultado trágico da sociedade burguesa, que ao fim traiu seus ideais de liberdade e igualdade ou talvez nem os levassem mesmo a sério. O fato é que a idéia de anarquia só nos é concebível em um contexto de governo em que a ausência dele seja uma possibilidade plausível, e para isso, como marca da especificidade histórica do anarquismo na modernidade, haveria que se ter em vista, alguma tática ou estratégia que propiciassem a alguns, pelo menos, a crença ou sonho em um futuro melhor, este sonho para os anarquistas é o da sociedade sem governo e o caminho a ela é o da ação direta.
Acontece que a condição de possibilidade da ação direta não depende necessariamente do novo ator social que surgiu da exploração burguesa e da resistência a esta nova realidade, a ação direta perpassa o anarquismo, o atravessa e de passagem encontra nos anarquistas sua melhor expressão, contudo, não foi a única. A guerra contra o Estado ou sua possibilidade iminente é contemporânea do Estado, do governo e a ação direta é a resistência a ele, a guerra política e a política de guerra contra a autoridade instituída e fundada na desigualdade e na exploração. Os anarquismos apenas fizeram um uso mais condigno com a realidade social instituída pela burguesia.

Ação Direta III
Autonomia e Ação Direta

Tentaremos fazer neste pequeno opúsculo uma relação livre entre o conceito de autonomia em Castoriadis e o de ação direta. Quando o pensador grego afirma que o mundo é uma instituição imaginária dos homens e que somente a eles cabem os limites de suas ações. Deveremos ter em mente que a autonomia é a reconquista dos homens de decidirem suas próprias vidas, tanto exigindo a ampliação de suas liberdades relativas, quanto à limitação de suas ações. E é nesse ponto que entra a noção de ação direta que seria justamente o método de reconquista dessa autonomia pela própria ação autônoma dos homens. A ação direta é a estratégia política anti-política parlamentar autônoma de militantes que buscam disseminar tal prática para que todos conquistem esta autonomia.
É nesse ponto que a ação direta ultrapassa os limites das teorias e práticas anarquistas e é por isso que se justifica a nossa tentativa de relação entre um conceito e outro, isto é, entre autonomia de Castoriadis que surge em um contexto de luta de classes a partir dos operários, mas leva em conta um alicerce humanista, que se contrapõe ao totalitarismo de esquerda.
Cada sociedade, ao se instituir enquanto tal, cria as suas formas de representação, de expressão, de interpretação, em suma, todas as idéias e ações só são possíveis dentro dos limites impostos por essa sociedade instituída. Dessa forma, em uma sociedade surgida do empreendimento histórico da burguesia que ao se instituir enquanto classe, depois como classe dominante e a seguir como instituinte da nossa sociedade, em que a expressão de seu domínio impõe limites às oposições e contestações desse poder. Em outras palavras, todas as práticas e idéias estão contidas em uma redoma, em um magma que dificulta a sua destruição, ou seja, a sociedade instituída impõe suas próprias regras de jogo.
Portanto, para se opor à sociedade burguesa há que se opor ao jogo liberal burguês pela rejeição de suas próprias regras instituídas. É nesse sentido, que reivindicamos para uma inteligibilidade possível da ação direta libertária, um outro fazer político, uma outra regra imposta pelo novo método, pela criação “milagrosa” inédita que impõe um outro fazer. Em outras palavras, não dá para construir o novo, com atitudes velhas, podemos sim, não tem outro meio, partir do velho, mas o fazer deve ser autônomo baseado nos fins que se almejam, e de acordo com estes mesmos fins e com as possibilidades reais de erigi-los. Com efeito, a ação anarquista contra o Estado capitalista, se constituiu enquanto tal nas brechas do próprio. Como vírus, a ação direta foi a prática autônoma, que se configurou como a criação de uma outra possibilidade de sociedade, de outro jogo político, de outras regras, moralmente diferentes, por meio de pessoas que se dedicavam a causa de propagar a anarquia. Assim, a ação direta constituiu-se em práticas, hábitos, sensibilidades de alguns militantes que pretenderam universalizá-las.

Ação Direta IV
A Compreensão da Ação Direta, um problema metodológico

O estudo do anarquismo nos impõe uma outra concepção de política. O conceito de política proveniente da Antigüidade baseado no diálogo entre iguais, entre os pares, não nos é suficiente para compreender a emergência dos discursos e práticas anarquistas. Nem muito menos a noção de político que emerge na modernidade atrelada ao suporte e necessidade de um Estado. A anarquia nos coloca a política como guerra entre campos de forças diferentes, cujo conceito de política clássico ou moderno não comporta.
A política não pode se restringir a uma determinação que compreenda as diversas formas de relações de poder, deve, numa perspectiva ampliada, poder ser também a arte ou a guerra (estratégia) de organizar os indivíduos com o fim a um objetivo novo, que extravase a redoma do estabelecido. Qualquer que seja a sociedade e sua organização, a sua ordem estabelecida é imunizada de novas formas de organização, impedindo o novo de brotar no velho, daí a necessidade de se pensar a partir do fora imaginado, de destruir por inteiro. A ação direta libertária é esta atividade de pensar o novo fora do velho, é uma estratégia de guerra, não um diálogo; é uma tática que muda as regras do jogo, trazendo o inimigo para o campo em que ele é vulnerável.
Assim, para estudar a ação direta, seus discursos e práticas que as permitiu, devemos reavaliar o conceito de política para além do índice do Estado na modernidade e da polis na Antigüidade.
Por outro lado, não podemos cair na armadilha iluminista do “bom selvagem” ou da utopia de Morus, isto é, na idéia de que nos primórdios houve sociedades perfeitas e de que num futuro socialista não haverá mais repressão, opressão e dominação. A equipagem do conceito de política não quer instaurar a pretensão de perfeição utópica, mas permitir que a utopia aja no seu espaço mental próprio da possibilidade ilimitada da criação do novo, do milagre humano de instituir o imponderável. Tal conceito de política não pretende extinguir as relações de poder, mas incluir em sua inteligibilidade a anarquia, a ausência de governo. O conceito de política deve ter condições de compreensão da ação direta.
Para além do diálogo, do monopólio da violência, do mal menor, o conceito de política deve também abrigar a possibilidade da auto-governabilidade, isto é, da organização social como autogestão, como ação direta dos indivíduos em sociedade, no enfrentamento dos problemas diretamente, a partir de um ponto de partida que estabeleça a igualdade e a justiça social, territórios essenciais para se plantar a liberdade plena.
A emergência do conceito de ação direta em meio à correlação de forças da modernidade, a partir do aparecimento e do agravamento dos problemas criados e impostos pelo Estado capitalista, referencial pleno e absoluto da política a partir de então, que em sua representação mais branda, se reveste na forma de democracia representativa, inscrita na livre iniciativa privada, colocou em cheque todas as condições de existência do conceito de política, tanto o antigo, quanto o moderno que se construiu a partir daquele.
A ação direta, método e sensibilidade para construção autogerida de um novo mundo, implode a noção de política construída a partir da polis do colonialismo grego e retomada e reconfigurada na modernidade a partir da idéia de Estado e de representação, que pretendia dar conta de problemas modernos que vieram à tona com a multidão nas cidades e com a formação dos Estados nacionais. Sendo assim, a partir do problema que nos impõe o estudo da ação direta e da autogestão anarquista, sugerimos que a noção de política deva ter outro fundamento, além dos habituais, polis e Estado. O suporte da política deve ser a guerra, o conflito, ou pelo menos, a sua possibilidade. O diálogo, o debate, ou mesmo, a comunicação humana busca a supressão dos conflitos, a disposição das pessoas, dos instrumentos, das armas numa determinada arrumação, ordem. Mas o objetivo de tal busca nunca é alcançado plenamente. A política não surge para evitar a guerra, esta é sua condição de existência. Ela é uma continuidade da guerra em outro plano. A política é o conflito no plano do diálogo e do entendimento, porém, este não é isento de violência. Esta não é suprimida na política, a violência é disfarçada, ganha um outro formato, uma perspectiva civilizadora, tanto antiga, quanto moderna.
Somente a partir da noção de guerra é que o novo pode emergir, pois o inimigo e não mais um dos pares ou um representante da lei, do cidadão, mas aquilo que não se conhece, aquilo que não está decodificado pela língua, pelo hábito ou pelo estabelecido, pois o inimigo sempre vem de fora, é um estranho, um elemento surpresa, aquilo que não se pode prefigurar ou prever, enfim, com a noção de guerra, há possibilidade do novo, e isso nos coloca outros paradigmas, uma nova ética, uma nova educação... etc.

A Maleabilidade da Ação Direta

A ação direta embora pressuponha o novo, o milagre na política, o imponderável da história e existe enquanto marca-conceito, ação para dar condição ao novo, contudo, ela é uma estratégia nômade, não fixa, e sim maleável. Pode se configurar como estratégia explosiva, um ataque frontal e surpresa, maciço, como emboscada, pode também ser uma implosão viral contaminando as veias sistêmicas e depois as artérias. Os anarquistas apostavam em várias táticas, que vão desde a resistência pacífica ao ataque violento e até mesmo condenável, pelo menos nos parâmetros arcaicos da política da polis e do Estado.
Como marcas exemplares da pluralidade da ação direta libertária houve a tentativa de criação de uma nova moral, um novo modus vivendi, tanto a partir da educação quanto pela propaganda em seus mais variados aspectos, assim como, houve criação de guerrilha armada, a implantação de autogovernos que perduraram por algum período, mas o ponto em comum desses estratagemas, tanto implosivo quanto explosivo é o “começar algo novo” é o “criar a partir do fora”, mesmo que este fora não seja do ponto de vista espacial, mas signifique a negação ou rejeição total daquilo que está posto, seja em método ou em finalidade.

Dialética... Ainda uma lógica identitária

A dialética é um método que, muito embora, valorize as contradições da sociedade e o movimento do real por elas criado, seja numa visão materialista, seja ainda pelo prisma idealista, tal método se baseia no princípio lógico da identidade, pois é contra o dito que se firma a contradição, é a inversão de algo já posto, e esta inversão é a identidade às avessas daquilo que já está dado, portanto, é pela lógica da identificação incessante, mesmo que invertida, que se dá o suposto movimento dialético do real. Há uma determinação interna que impõe um caminho para o fazer do real.
Com isso, mesmo a dialética materialista quando se propõe enquanto método para apreender o real e ser a sua identificação tal qual e por isso ser sua expressão verdadeira, este método a partir dessa lógica identitária não permite a aparição do novo, porque o novo segundo a sua concepção é o contrário do que está posto e não o diferente, aquilo que não se pode predizer e quando dito torna-se por princípio uma distorção da realidade.
Daí resulta tanto o erro de Hegel quanto o erro de Marx, o de acharem ambos que estavam de posse dos óculos que poderiam transpor as ideologias que alienavam e impediam a verdadeira visão do real. Há que se ter a maleabilidade de um método que dê a possibilidade do imponderável, da diferença, que se constitui enquanto diferenciação, posto que é outra coisa e não se identifica com o real, pois este é sempre uma construção a partir da realidade e não a mesma coisa, e não a des-inversão do real.
Nesse sentido, a sociedade do futuro não é o contrário da sociedade burguesa, nem o socialismo o contrário do capitalismo, mas uma forma diferente de viver, imponderável para os que vivem hoje, imprevisível e com todas as variáveis que o hoje nos possibilita ver, mas também com todas as variáveis que nem podemos imaginar. É nisso que consiste a nossa defesa na autonomia, na autogestão, enfim, na ação direta dos próprios interessados na mudança.
É por isso, que a direção dessa mudança não pode ser prescrita, não pode ser imposta de fora para dentro, mas deve ser movimento autônomo, criticável apenas em seus próprios parâmetros e não no de uma dialética de fora que presume apreender o todo, num sobrevôo mágico que não se deixa contagiar nem se determinar pelo vento atmosférico do que se propõe a visar.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Crônicas de Infinito... Azul!


Pensando o quanto somos mais do que deveríamos ser e, principalmente, mostramos a outrem, sempre, nossa superioridade, quando olhamos para o infinito, é que podemos confirmar nossa mediocridade, mesmo que isto não seja crível por nosso cérebro tão vivo e potente (um suprassumo de nossa existência medíocre); ao mesmo tempo em que nos tornamos exíguos e mínimos, afirmamos nossa existência, nosso lar e nossa vida... um pálido ponto azul é o que somos.

E na palidez deste ponto distante, ainda mais mínimos nos tornamos, trazendo para o seio de nossa superioridade de Homo Sapiens Sapiens uma mágoa, com pingos de luz; uma luz distante e azul; aliás, não somos nós um pálido ponto azul, é a Terra este pálido ponto azul... e a nós, o que resta ser? Nesta escala de infinitude e arrogância? Fica no ar... aliás, uma dúvida que é lançada no universo e, quando volta para nós apenas afirma mais ainda a dúvida e nossa ignorância e mediocridade: a ignorância de ignorarmos todo o Universo à nossa volta e a mediocridade de afirmar toda nossa grande inteligência... apesar de mínima e arrogante.

Por que tanta arrogância e, ao mesmo tempo, tanta exiguidade? Talvez por estarmos falando de nosso lar; o mesmo local onde nossas emoções e sentimentos vêm a tona, tirando-nos de nossa mediocridade universial (e é que I mesmo, isso não foi um erro de digitação), e dando-nos um pouco de existência... mesmo que uma existência como um pequeno pomo... uma pequena bolha... e um pequeno ponto azul.

Quando olhamos a Terra por cima, e ainda mais acima, a Terra do Universo, apenas constatamos uma verdade que nos persegue, e ao mesmo tempo é uma verdade que nos dá vida, a verdade de nossa reles e, ao mesmo tempo, nobre existência. Aliás, é esta verdade que ainda nos faz viver. Viver é isso, mostrar para nós mesmos que nossa vida é medíocre, todavia, necessita existir para nos alimentar... para aumentar alguns graozinhos de uma sobrevida medíocre. Triste é viver, sabendo que o universo pode ser muito mais que a pequenez de nosso ser e, principalmente, muito mais que a pequenez de nossa morada e de nosso lar.

A Terra é isso: um pálido ponto azul no universo... tão-somente uma névoa de poeira de uma vida que, de tão infinita, mais parece um Deus... não dá para conceber a dimensão de sua existência, se é que esta existência nos é factível... talvez não: pode ser que ela seja vivível... como um pálido ponto azul no universo! Ou pode ser uma enganação (ou ilusão... prefiro a palavra enganação, bate mais forte em nosso orgulho ferido) de ótica... triste dúvida para aqueles que têm a certeza em suas constatações... e alegre dúvida para aqueles que sabem o quanto uma constatação é mínima e medíocre.


sábado, 17 de maio de 2008

Seção D'Outro


Sem Latinha no Estádio
(Uma homenagem ao blogue Futebol, Política e Cachaça)

O texto abaixo foi enviado pelo Ivan Moraes Filho, do blogue Bodega (http://www.bodega.blog.br/). O drama relatado já foi debatido neste site e também pelo Marcão no blogue Papo de Homem (http://papodehomem.com.br/futebol-e-boca-seca-no-combinam), mas continua a polêmica. Proibir bebidas alcóolicas no estádio serve para quê mesmo?

Era uma noite de quarta-feira como muitas outras. Mais uma vez, vestia a camisa rubro-negra do Sport. Mais uma vez, chegava à Ilha do Retiro várias horas antes do início da partida. A gente fica sempre por ali, na sede do clube, tomando uns goles de cerveja e fazendo a resenha pré-jogo. Quem vai jogar, quem não vai. Como será o esquema tático, quanto será o jogo. Quem é o juiz?

Ontem, porém, o assunto era outro.

“Vai vender cerveja lá dentro?” era pergunta constante. Afinal de contas, poucos dias antes a Confederação Brasileira de Futebol determinou que em partidas de campeonatos nacionais seria proibida a venda de bebidas alcoólicas dentro dos estádios. Mesmo sabendo dessa tragédia, a gente fazia que não acreditava. Que isso devia ser coisa lá de São Paulo, Rio de Janeiro. Enfim, a gente acha que só pode acontecer com os outros.

Dito e feito. Subindo as escadas que dão acesso às cadeiras, o bar vazio denunciava a norma em vigor.

Mas a gente não quer acreditar no que vê.

Pois é, quando a CBF busca se interessar por assuntos "importantes", é esse tipo de polêmica que ela cria... ainda falta muito: quando é que o Brasil vai começar a se pensar (e a se ver) com maturidade? Quando é que conseguiremos fugir dos lobbyes que ainda assolam aquilo que seria o meio mais democrático de o Brasil se entender como tal? Imagino que isso nunca venha a acontecer, a não ser... difícil heim... quando o dinheiro deixar de determinar os rumos de nossa democracia: esteja ela no DEM, PMDB, PSDB ou PT... isso é Brasil... isso é democracia representativa!

E vamos vivendo!!!!!!!

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Crônicas de Pré-Morte!


Dizem que a morte nos faz repensar certas coisas, incluindo a tão afamada religião e seus mais variados apetrechos - mesmo fora dela - como é o caso da religiosidade. E quando esta morte vem anunciada, porém, de uma forma brusca, ainda mais, o repensar se absolutiza, fazendo-nos refém de um destino já previsto, embora não esperado, pois ninguém espera a morte, olhando pela janela; e a buscando no horizonte. Morrer é sempre uma situação que, mesmo sendo certa, nos faz não querer vê-la; preferimos acreditar que o duradouro é a vida e a certeza é a morte; parece que conforta... muito menos esperá-la.

Juntando-a com uma outra catarse, outra vez, seu viço se ilumina, e sua áurea se fortalece. Esta outra catarse a que me refiro é a música: se o homem é sincero e a humanidade verdadeira, tais coisas só podem acontecer em momentos de catarse; e música e prenúncio de morte são fortes elementos para a liberação dessa catarse, logo, para a iluminação do ser e a veracidade da vida... mesmo sendo uma vida em finalmentes... por isso sua veracidade e destempero virtuoso.

Uma pessoa, aliás, um cantor que conseguiu unir tais elementos de uma forma muito bela e poética foi Cazuza, mesmo dentro de uma canção vinda à público (ao menos para mim) através de Renato Russo, outro poeta que viu a morte anunciada, sem mesmo querer que ela surgisse... e que aparecesse em sua direção com as mãos em posição de acolhimento.

Bela canção de um não-tão-belo-fim-assim... anuncia-se a morte por meio da música, e sua religiosidade ultrapassa a crença e atinge o coração, colocando em cena dois elementos de iluminação efetiva e última... não sei se para o fim, ou para o começo... talvez só o saberemos quando anunciarem nossa morte e não a querermos esperar!!!

Mas, o que me importa (e este verso me lembra Marisa Monte) seu carinho agora, e sua mão estendida em minha direção, dando-me acolhimento... se ainda não anunciaram meu fim (Pensarão alguns)?!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Crônicas de uma Metrópole Contemporânea!



Tem certas fotos que dizem muito mais que o real interesse de quem, tal obra produziu, ou mesmo, de quem, de uma forma infensa, a viu e não a compreendeu: sua grandeza, sua gama de signficados; as vidas que de tal obra de arte vimos sugar suas forças num flashe. São fotos, são fotos musicais... são videoclipes! A foto que pode ser vista acima mostra muito bem como seria as condições de vida de um super-herói numa metrópole, nos dias de hoje, aliás, nos tristes dias de hoje; e por super-herói estou me referindo às condições de vida que o mesmo se vê obrigado a passar, vecendo tamanho desafio, e ainda, continuando a viver. E quando vemos, e sentimos, dias frios como os de hoje pela manhã (o termômetro marcava 8 graus, na parte mais baixa da cidade, próximo a um lago branco de neblina), e quando nos damos conta de que estes super-heróis existem, mais ainda os vemos como grandes homens, grandes vidas... todavia, vidas em miséria.

Preocupados que somos (não eu, pois não tenho carro, prefiro uma bicicleta) quando vemos o preço do barril de petróleo estourar os 122 dólares, sabendo que tal ouro negro foi o principal motivo de uma guerra sem vitoriosos, como foi esta última ocorrida no Iraque, e que já passa dos 6 anos, sem solução, o que é ainda pior. Aí que deveríamos olhar para estes super-homens, estejam eles de que lado optaram, e dar-lhes o real valor que uma vida merece. Se não isso, ao menos reconhecê-los enquanto gente...; um mínimo de dignidade apenas nos engrandece... e a estas pessoas.

Ignorar certos fatos e pessoas é ainda mais triste que deixá-los à míngua; fazer de conta que eles não existem é ainda mais triste que deixá-los passando frio, com um tambor velho, como casa e morada, a esquentar. Um viaduto como arrimo e teto para fugir da chuva (de uma forma não tão completa assim), e tentar se manter longe dos humores gelados dos dias frios que se aproximam...

Músicas e fotos deveriam ser melhor observadas, deveriam também serem melhor trabalhadas, discutidas e debatidas. Instrumentos como estes são os únicos que temos. E por termos tais instrumentos e deles não nos utilizarmos, estamos fazendo mais vítimas que a guerra, o frio e a fome. Talvez, nossa grande baioneta seja a indeferença e o desprezo... viver é deixar os outros também viverem... não deve haver comiseração, mas atitudes que justifiquem o que realmente fazemos... seja nas letras, seja nas ações!

terça-feira, 6 de maio de 2008

EUA X Japão, ou, Brasil X Paraguai?



Segundo o sítio Unificado (http://www.unificado.com.br/calendario/10/plano_marshall.htm), o Plano Marshall foi uma ajuda dos Estados Unidos da América, dentro da Doutrina Truman, aos países envolvidos na Segunda Guerra Mundial, em especial ao Japão (como também toda a Europa; diria até que é a partir daí que o Dólar ganhará maior poder de lastro sobre a Libra Esterlina, tornando-se moeda universal), que, por triste destino, foi o país mais afetado. Afinal, as duas únicas bombas atômicas - que temos notícia, é claro - que se explodiram sobre alguém, foram direcionadas ao Japão; não foi à toa que, em tão pouco tempo (50 anos, talvez), um país totalmente destroçado tornara-se um dos mais ricos do mundo.


A coincidência de toda esta estória é algo bem próximo da gente: sabemos todos, ao menos aqueles que se interessem por um mínimo de História Brasileira, que o Paraguai teve uma das mais injustas guerras travadas em suas terras. Guerra essa que contara com a união de três potências regionais: Uruguai, Argentina e Brasil (por que dentro do futebol, são contra estes dois países que mais a seleção brasileira sofre heim? Não seria um resquício duma união forçada? Imposta pela toda grande Inglaterra? Deixo para aqueles que queiram especular).


Estas potências regionais fiseram do pequeno Paraguai um ainda menor e mais fraco país. Não é à toa que sua economia é uma das mais atrasadas do continente, em seu lado de baixo, tendo como uma das principais fontes de renda, inclusive, várias situações consideradas ilícitas (do ponto de vista fiscal e econômico). Penso até que tem alguma coisa a ver...


Quando houve a Guerra do Paraguai (http://www.historiadobrasil.net/guerraparaguai/), muito se falou em genocídio e também em dizimação. Dão-nos números de que 60 a 70% da população masculina de referido país foi dizimada. Não é de se assustar, nem de chocar, se isso realmente tenha acontecido: em História sabemos que os números nunca são como de fato foram... há sempre a necessidade de mostrar aquilo que a nós, e tão-somente a nós que a escrevemos, nos interessa. Maquiar faz bem... e nem por isso nos tornamos palhaços.


Pensando neste pequeno imblógio, uma idéia me veio à mente: quando Fernando Lugo ganhou a eleição, desbancando alguns tantos anos do Partido Colorado, o Paraguai começou a levantar algumas bandeiras, bandeiras estas que, há alguns anos, já se davam enquanto possibilidade com a subida de Evo Morales na Bolívia e sua relação econômica com o Brasil, muito gás, muita conversa e pouca ação, e a sempre sina do mais forte sobrepujar o mais fraco; e Itaipu (http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/internacional/tratado-de-itaipu-prejudica-os-povos-do-brasil-e-do-paraguai) é exemplo maior disso.


Em matéria de possibilidades há sempre a necessidade de se pensar no coletivo de certo grupo político transnacional, descambando na tão afamada globalização e regionalização de capitais, o que não significa que a população, em alguns casos, precise se sentir plenamente afetada, do lado positivo, é claro. Sempre é justo que tais acordos sejam rediscutidos, como bem menciona uma posição de Bresser-Pereira, publicada na Folha de São Paulo de 05 de maio de 2008: "Quanto mais pobre é um país, maior será a diferença entre pobres e ricos, menos informada politicamente será sua população, menos organizado será o mercado e mais fraco o Estado. Como a apropriação do excedente não se realiza principalmente por meio do mercado, mas do Estado, a probabilidade de que facções das elites recorram ao golpe de Estado quando se sentem ameaçadas é sempre grande." E aí entra o perigo: as elites sempre acham que negociar com países populistas é perigoso; como têm questionado a posição de Lula, e como questionaram sua posição com relação à Morales. Outra questão se levanta, em lado totalmente oposto: o tal do Neoliberalismo, novamente, passa pelo crivo questionatório de Bresser-Pereira.


Mas, voltando às uvas: não teríamos uma coincidência histórica, pensando em Plano Marshall, vindo à tona? Quando Brasil e Paraguai reatam acordos, revendo contratos? Penso que sim. Segundo Iuri Dantas, também da Folha de São Paulo de mesma data, uma reunião ocorrida na última terça-feira; a portas fechadas, entre o chanceler Celso Amorim e o vice-presidente (eleito pela chapa de Lugo) do Paraguai Federico Franco, foi justamente para tratar deste tema, pensado a partir do Paraguai, e nomeado por este último: "Na versão tropical, o plano tembém serviria para reduzir a pressão dos paraguaios sobre a rediscussão do preço da tarifa de energia da usina binacional de Itaipu, tornando prático o discurso do governo brasileiro de auxiliar o desenvolvimento do Paraguai".


Nada como revisitar velhas feridas da História, repropondo novos temas e rediscutindo novos povos. Resta esperar, e ver até que ponto a História não se repetirá em erros, e ainda, até que ponto não nos deixaremos levar por interesses a-históricos. Tentativas de rever a História sempre foram muito bem-vindas, no entanto, as cicatrizes, de tão agudas, nunca deixaram de ser vistas... dói só de ver!

domingo, 4 de maio de 2008

Crônicas de Vida em Crônica!



A incidência e força do sol sobre a terra fria, com seu clima ameno, causa uma sensação térmica das mais interessantes: é como se o frio do sol, quando de seu distanciamento maior do Hemisfério Sul, batesse à porta, esquentando a terra de cá, e oferecendo fogo de lá (aliás, da parte de cima, lá no Hemisfério Norte), mostrando, com sua diversidade personalista e intimista, o quanto somos dependentes seu, principalmente quando somos nós que oferecemos - recebemos - este teor intimista..., pessoas que sentem o que a terra oferece.


As crônicas do cotidiano, nesse sentido, vêm para oferecer à nós, e a quem nos lê, uma outra realidade... re-lida e re-contada. Uma realidade ensolarada, fria, chuvosa e diuturna... horas do agora, contadas pelas bocas de antanho (um antanho em formação ida). Contemporâneo da existência num constructo de vários passados. O quê fazer então para poder sentir, de uma forma úmida e plena, o telurismo destas realidades; tão nossas e, ao mesmo tempo ligadas àquilo que nos vêm e àquilo que nos fora ido?


Não sei... imagino que podemos ver melhor isso, ver melhor o que está nos vendo e o que estamos vivendo quando este nosso olhar se volta retrospecto e numa situação de afastamento. Se vive sim, alguns dizem que apenas uma vez, outros, uma infinitude de mundos e vidas; mas são vidas que se fazem em tempos idos e vindos. Vai saber... sabe-se apenas que a nossa vida pode ser uma, ou várias, depende de quem é essa nossa vida. Eu sei que cada um tem a sua, mas sei também que todos estão envolvidos com a vida de todos, mesmo no isolamento, e isoladamente.


Deixe o sol se mostrar, trazer para nós chuvas de vida... muitas vidas passadas e presentes: as nossas e a dos outros que se fazem vossas!

sábado, 3 de maio de 2008

Crônicas de Insônia!



Tem dias que sentimos um sentimento profundo de passado, são dias que nos dizem de dias de antanho: crises sentimentais, de consciência e, principalmente, crises de existência. Nossos escritos acabam refletindo um pouco destes sentimentos... somos isso, um pouco do que foi com o que, constantemente, está a nos dar valia... está a nos criar existência. Certa noite de insônia este sonho me veio... tristeza e melancolia profunda:

"Sei que ao olhar para fora algo bem amarelado e grande me dirá boa-noite. E é esta solidão que continua a me incentivar... é como se ela me desse um novo recomeço! E, dentro deste horário, o recomeço é ainda mais consistente e real, pois já passa do dia anterior. Todo dia, pelo menos em sua antecedência, temos uma madrugada. E esta é especial, é uma madrugada que inicia novo ciclo. Posso me ver como esta mudança de lua, mesmo porque, o fato de estar acordado até a esta hora, por si só, é algo totalmente novo. E ainda quando estamos falando de lua cheia, este recomeço é ainda mais especial.

E este é meu recomeço... que bom!... veio junto com a lua cheia, pois foi nesta lua que descobri o quanto as pessoas podem ser interessantes e, ao mesmo tempo, irreconhecíveis.

Sempre temos um lado oculto que vem à tona no exato momento em que nossos desejos mudam de plano. É como se um outro objeto aparecesse em nossa frente e nos dissesse que não somos mais o antes. Apesar de querermos o antes, é o agora que acaba incomodando...

Felizmente, dentro deste recomeço, começo a pensar em uma certa serenidade, sei que existe, por isso meu pensamento sobre. Mas sua existência sempre esteve condicionada a certa realidade – realidade essa que presumo, chegastes agora... e, imagino; a ela eu sempre persegui, sem, todavia, saber onde encontrar, pois, no fundo, eu acho que sentia sua falta – sabe aquela falta de algo perdido há tanto tempo que nem nos lembrávamos mais?, pois é, me refiro a esta falta... a falta de uma lembrança oculta, embora sempre presente –, mesmo sem a tê-la por perto. Numa única vez, pude ver que algo me faltava. E essa única vez que, por sinal é agora, me fez adentrar tua morada ainda mais profundamente, a ponto de poder avistar somente as sombras... sim, aquelas mesmas de Platão, quando da fogueira ao fundo. É como se a perseguisse sem saber onde estivesse... e na perseguição dessa serenidade, as sombras são companhia quase cabal e inexorável!

E nesta busca de minha pessoa, junto a mim, também pude encontrar o outro. E por isso a força deste recomeço, e o valor de sua conduta para com minha conduta... são, tão-somente, valores em conflito e combate; o outro sempre me foi estranho, mesmo estando bem próximo de mim, pode parecer estranho, mas é isso mesmo. Algo tão interessante que, em si, nos oferece outras possibilidades.

É, a vida tem dessas coisas, aliás, a vida, o coração, tudo passa a se resumir em primeira pessoa. E neste sujeito surge o verbo intransitivo e intransigente.

Daí meu medo em ver esta nova fase... Mas, sabe como é, um medo que incentiva-me a ir adiante, por isso mesmo um medo bom. Meio traquinas, decerto, mas um medo bom.

O medo de encontrar a serenidade. E, como disse, ele pode não ser um medo ruim. Bem íntimo, talvez, mas de uma intimidade libertadora e libertário... algo meio anárquico e novo, como nunca fora. E é por isto que ele se mostra tão bom."

Pois é, tem dias que a insônia faz a gente escrever coisas estranhas...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Seção: Resenhas



:: Autoritarismo e Anarquismo - Errico Malatesta

Por: Adonile Guimarães


1876 é uma data marcante para o socialismo mundial, é, ao mesmo tempo, o ano da morte de um dos maiores revolucionários anarquistas, Bakunin, e também a bifurcação da herança do revolucionário russo que culminará mais tarde na criação do anarcossindicalismo e do anarco-comunismo. Esta última corrente libertária criada a partir das idéias de Kropotkin, sofreu inúmeras críticas de anarquistas descontentes com a perspectiva determinista que preconizava uma evolução gradativa da sociedade a um estágio moral elevado que faria com que as pessoas reconhecessem o anarquismo como a forma de vida mais natural. Com as críticas de Malatesta e Cafiero formou-se um tipo de anarco-comunismo que valorizava a preparação da revolução libertária e a organização da futura sociedade, dando devida atenção para o papel dos sindicatos e dos conselhos, sem, contudo, destacar a insuficiência da organização sindical para a criação de condições concretas à revolução.


No Congresso de Amiens em 1906, quando pela primeira vez se usa o termo ação direta, embora, a noção e o significado desse conceito já fosse há muito uma característica da ação ácrata, cresce em força a presença dos sindicalistas revolucionários. Um ano mais tarde no Congresso Anarquista de Amsterdã, ocorre um debate significativo entre Malatesta que defendia um anarco-comunismo sem lugar estratégico de luta definido e P. Monatte que advogava pela valorização predominante do sindicalismo revolucionário. Daí surgirá à denominação e “oficialização” da corrente anarcossindicalista, que foi muito forte na França e teve em Georges Sorel, um dos seus principais teóricos e entusiastas do “mito” da greve geral.


A partir da morte de Bakunin, a pluralidade das idéias e práticas libertárias ficou mais escancarada, já que o grande revolucionário que aglutinava esta pluralidade em torno de sua figura histórica de luta e dedicação incomparável em toda história do anarquismo moderno já não estava mais no campo de combate, e já há algum tempo, mesmo antes de sua morte, conforme confidenciava em suas cartas, já se via mais para um burguês velho e fraco, sem forças para combate e sem motivação para a pura teoria.


No vácuo da morte de Bakunin, alguns anarquistas, como Nachaev, o mesmo que o russo se viu por um breve momento atraído, deram início a várias ações violentas, como atentados à bomba, assassinatos a grandes personalidades de governo e a explosão de prédios simbólicos do poder que levaram ao grande público uma mensagem extremamente negativa do anarquismo. A burguesia se aproveitando disso começou uma grande propaganda em que generalizava que anarquistas eram sinônimo de terroristas. A partir daí várias campanhas de repressão e violência tiveram como efeito a deportação, a prisão e o assassinato de vários militantes anarquistas no mundo inteiro. A organização libertária e o movimento operário sofreram de um modo geral um grande golpe.


Nesse período, surge no cenário operário do ocidente a figura de Kropotkin e a filosofia do anarco-comunismo, os escritos desse outro grande anarquista russo tentava fundamentar o anarquismo dentro de uma perspectiva da ciência natural, defendendo uma tese ousada e original para o período, a de que a seleção natural, a qual Charles Darwin ficou famoso por vê-la como um traço principal da evolução das espécies, não era tão preponderante na história natural e que, por outro lado, a ajuda mútua, o termo que cunhou, era muito mais verificável como fator para evolução.


Kropotkin com isso, pretendia dar respaldo científico ao ideal libertário e propunha que a principal tarefa do militante anarquista seria a de divulgar esta filosofia, por meio da propaganda, para que fosse possível, gradativamente, o convencimento de que a moral anarquista era o fim último da natureza humana.


É inegável o valor dessa filosofia, principalmente, para desmitificar a péssima imagem deixada pelos anarquistas individualistas que seguiam o método da propaganda pela ação. Kropotkin, sem dúvida, foi responsável por uma maior aceitação do anarquismo pelo público em geral, mas cometia um grande erro, ao não valorizar a organização e priorizar o espontaneísmo operário que levaria fatalmente a revolução, que para ele era mais uma evolução gradual, com o menor uso possível da violência e dos embates entre as classes do que propriamente uma ruptura radical com a sociedade burguesa. Em certa perspectiva as palavras de Kropotkin levavam os anarquistas a uma letargia prejudicial, pois no fundo acreditava-se que as próprias descobertas científicas e a maior divulgação dos avanços da ciência já seria um fator para levar as classes a um consenso em torno da moral anarquista e de seu ideal que melhoraria a vida de todos.


Por outro lado, Malatesta dentro do anarco-comunismo Kropotkiano iniciava com intervenções e críticas ao resultado imobilista das idéias de Kropotkin que tinha como conseqüência: um anarquismo de gabinete que cada vez mais se distanciava dos trabalhadores. Nesse período crescia a influência dos sindicatos, principalmente, na França, e os anarquistas da linha de Kropotkin tendiam a desprestigiar esses movimentos e, dessa forma, colaborava ainda mais para perda de influência do anarquismo entre os operários. No entanto, apesar de Malatesta reconhecer o erro em rejeitar o sindicalismo revolucionário que pretendia ser a base da futura sociedade, ele também via claramente os limites do sindicato tanto para organização anarquista, quanto para organização da própria sociedade libertária.


Assim, o revolucionário italiano estava no meio de um fogo cruzado dos diversos anarquismos que lutavam entre si por uma maior hegemonia e influência dentro do movimento operário revolucionário. De um lado havia a paralisação do anarco-comunismo espontâneo de Kropotkin; de outro, os infundados atentados dos anarquistas individualistas que recaí em um niilismo que já vinha anunciado desde as idéias de Max Stirner; de outro ainda, havia a supervalorização do sindicalismo revolucionário que fora fermentado pela adesão de anarquistas formando o anarcossindicalismo na França, seguindo orientações de Georges Sorel e Pierre Monatte e no meio dessas ideologias cruzadas, em que ambas reivindicavam ser legitimamente anarquistas, estava Malatesta e seus companheiros que defendiam um anarco-comunismo reflexivo e organizacionista.

Crônicas de Chuva!



Coisas de alma!


Um dia de chuva é sempre um dia triste, triste porque parece chorar por dores invisíveis; tão visíveis quanto a água - ainda - transparente, que cai junto com estas lágrimas; ou pode ser triste por sua escassez. Alguns ainda à vê chorar, outros choram porque ela não vem. Dizem que são coisas do clima, pois eu digo que são coisas do clima-homem, este bicho anti-social e, ao mesmo tempo, que não consegue viver sozinho... uma contradição em ação. Aliás, é isto que os falta: suas ações para que estas chuvas voltem... que tal algumas mudinhas num bosque deserto a esmo?!

É também um dia de felicidade redobrada, de mudas em festa, de bosque em abundância. Alegria para ela e para eles, estes bichos chamados clima-homem, e estas mudinhas que destes clima-homens poderiam nascer, ou fazer brotar... talvez; apesar de terem aqueles que vão resmungar durante todo o dia, como o murmúrio que as águas-chuva de lágrima fazem, ao cair batendo no telhado, parede, vento e vazio.

São cores que brotam no inísível das águas, trazendo luz, num dia escuro, aos outonos de cá. Dando mostras de que, apesar de fininha - algumas vezes -, ela ainda está viva: _ Ela é minha menina e eu sou o menino dela. Ela é o meu amor e eu sou o amor todinho dela... todinho molhadinho.

Sabe-se, contudo, que em alguns meses, talvez dias, esta cor triste das águas que caem, deixaram de aparecer, tornando-se mercadoria rara; deixando-nos tristes e ressequidos - ainda bem que não somos folhas, senão ficaríamos amarelecidos e quebradiços. Espera aí; podemos não ser folha, mas temos ainda muito vazio para preencher: nos preencher com palavras, com sorrisos, com choros, sentimentos e tristezas... além de alegrias de chuva. Pois ainda temos a esperança de sua volta.

Mais importante ainda é que esta alegria das dores de lá (dizem que vêm do céu, pois eu digo que vêm da terra, aliás, das águas daqui debaixo) ainda podem nos mostrar muito pôr-do-sol... lindo como ele só, e triste como, tão-somente, o vemos... o vemos em nossos sentimentos, pois não são os olhos que vêem, é a alma e o coração... temos que nos acostumar a ver o mundo sem os olhos, pois mesmo que não tivéssemos olhos, ainda assim o veríamos.

São crônicas de chuva... dias em que o outono nos faz molhar a alma, daí a gente escrever estas minudências: coisas de alma!

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Crônicas do Contemporâneo!



Como podemos notar, as informações que os homens colocam no mundo – e hoje com muito maior incidência devido a Internet – podem servir de respaldo a toda e qualquer intenção que queiramos almejar.

Nessa seara, o conhecimento ganha a força de um turbilhão de forças. Se até então não sabíamos como lidar com a falta de acesso à informação e, por conseguinte, seu usufruto, hoje não sabemos como lidar com tanta informação. Se havia uma contradição enrustida, enrodilhada nos quehaceres de nossa vida, hoje há uma contradição que grita-nos ao ouvido a cada instante.

O fato de estarmos diante de tanta informação, com suas mais variadas nuances, também, por si só, é uma contradição, pois dizem coisas demais... e cada um com seu referencial de conduta e cognoscência. Esta contradição in loco é capaz de trazer até nosso universo psíquico, as variedades posições que o mundo oferece...

Se esta é uma crônica da civilização contemporânea, é também uma crônica de nosso universo cognoscente!